Semana de Cinema Negro de BH será online e com programação gratuita

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A 1° edição da Semana de Cinema Negro de Belo Horizonte será realizada a partir do próximo sábado (10), com extensa programação online e gratuita. A idealizadora do projeto, Layla Braz, explica que quando propôs o projeto, ainda em 2019, o objetivo era criar uma espaço de formação para o público negro poder ocupar as salas de cinema, os espaços culturais em Belo Horizonte e discutir produções negras.

“A Semana é esse espaço de memória, acolhimento, de partilhas, de a gente poder conversar mesmo, e trocar e ir construindo juntas”, ressalta Braz, que assume pela primeira vez a coordenação geral e direção artística de um evento de cinema.

Com a pandemia, o encontro teve de ser repensado e adaptado para o ambiente online o que, como conta uma das curadoras do evento, Natalie Matos, foi um desafio ao se considerar que parte da população negra periférica não tem acesso à internet ou a uma banda larga que sustente assistir aos filmes de forma online e simultânea “A escola está online e 4,8 milhões de pessoas não tem acesso à educação e, se essas pessoas não têm acesso à educação como eu vou entrar com esse festival online. A gente precisa entender que esse festival não é apenas diversão, também é formação, está ligado a educação”.

Pensando nessa realidade, as organizadoras realizaram a curadoria dos filmes nacionais e internacionais que ficarão disponíveis por uma plataforma de streaming  gratuita, e os debates serão realizado através do canal do festival no Youtube. “Esse projeto tem como objetivo também a formação de público, esse público que não tem acesso a esse tipo de filme que são filmes das nossas vivências, escritos por nós, feitos por nós.”, observa Matos.

Tatiana Carvalho Costa, que também é curadora do evento e que ministra a oficina “QuilomboCinema”, explicou que durante a construção da Semana no formato online, a ideia de sessões de cinema tiveram de ser repensadas o que resultou em uma liberdade para os participantes em montar suas próprias programações individuais. “Nós sugerimos três grandes  grupos de avizinhamento no que aproxima os filmes, mas eles podem ser arranjados de outra maneira. E queremos ouvir das pessoas como elas montaram isso”. São as sessões “Vivências afro-diaspóricas”, “Afetos e partilhas” e “Gritos e fabulações de cura”, além de uma sessão especial com o Filme “ATÉ O FIM” de Ary Rosa e Glenda Nicácio.

Os filmes escolhidos na sessão “Gritos e fabulações de cura” pretendem subverter a lógica de exploração dos traumas das pessoas negras como explica Costa, “é importante uma elaboração sob esses traumas para entender o que é possível organizar simbolicamente e pensar outras possibilidades de vida, de pluralidade”, a curadora ainda completa: “olhar para filmes que nos colocam possibilidades de existência, filmes que nos trazem outras coisas que não necessariamente a dor”.  Outra sessão “Afetos e partilhas” busca observar as formas de estar juntos “que tem a  ver com aquilombamento, mas não necessariamente aquilombamento em seu sentido conceitual, mas arranjos familiares, de grupos de amigos, organizações dentro dessa sociedade que dizem de formas de sobreviver também”, finaliza Costa.

Layla Braz é a organizadora do evento.

Ausência de Negros na cinematografia brasileira

Dados do relatório “Diversidade de gênero e raça nos lançamentos brasileiros de 2016”, divulgado pela Agência Nacional do Cinema (Ancine) em 2018, primeiro e único estudo realizado com recorte de raça pela agência, revelaram que, no período pesquisado, a presença de negros nos elencos de filmes brasileiros era de apenas 13,3%. Na pesquisa, a Ancine analisou 142 filmes nacionais que chegaram ao circuito comercial em 2016. No levantamento em 75,3% dos longas nacionais, os negros representaram no máximo 20% do elenco.

Ainda de acordo com o estudo, os homens brancos são a maioria entre os diretores (75,4%) e produtores (59,9%). Mulheres negras não foram vistas em nenhuma dessas categorias, produção e direção, e aparecem apenas em listas de produção-executiva junto a mulheres brancas. As negras são apenas 1% nessas esquipes. Esses números são importantes ao verificar que a maior presença de pessoas negras na equipe está atrelado também a ocupação das funções de direção e roteiro. O estudo revela que em filmes com diretor/diretora negros, a chance de o roteirista também ser negro aumenta em 43,1% e a probabilidade de se ter um ator ou atriz negros no elenco aumenta em 65,8%.

A seleção ou curadoria de filmes produzidos, dirigidos e com elenco de pessoas majoritariamente ou exclusivamente negras é um dos objetivos da Semana de Cinema Negro de Belo Horizonte como explica Matos. “Não é só uma educação de oficinas, é uma formação de público, de identificação, de reconhecimento de personagens, de se reconhecer dentro do filme, de histórias que foram perdidas ao longo do tempo. A ideia de curadoria vem muito dessa ideia de curar essa dor. A curadoria é uma cura de dor pra gente”, observou a curadora.

Programação da Semana de Cinema Negro de Belo Horizonte

Durante o evento serão exibidos  50 filmes realizados por pessoas negras brasileiras, africanas e da diáspora, com a presença de filmes inéditos no Brasil.  Um dos destaques dessa 1ª edição é a mostra  principal que celebra a  memória dos 51 anos do  FESPACO – Festival Panafricano de Cinema e Televisão de Ouagadougou (Burkina Faso) que conta com a curadoria da pesquisadora Janaína Oliveira.

A grande homenageada da semana será Dona Zezé, mulher negra, que iniciou a carreira artística aos 60 anos, mãe do cineasta André Novais Oliveira. Na semana, o cienasta apresenta ao público Rua Ataléia, curta-metragem inédito e o  teaser inédito de  “Nossa mãe era atriz”, filme dirigido por Novais em homenagem à Dona Zezé.

Confira a programação completa AQUI.

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