Sem reparação do Estado, mãe de Marcus Vinicius, morto pela CORE-RJ, segue lutando por Justiça desde 2018

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Foto: Divulgação

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Era uma quarta feira ensolarada quando Marcus Vinicius saiu para ir à escola e não voltou mais. No caminho, o  menino de 14 anos foi baleado nas costas. O tiro partiu de um carro blindado da CORE, a Coordenadoria de Recursos Especiais, uma unidade de operações policiais especiais da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro. No último sábado (20), completou-se 3 anos do ocorrido e nenhum dos agentes envolvidos foram responsabilizados.

No dia 20 de junho de 2018, Marcus acordou atrasado, mas mesmo assim foi encontrar um amigo para ir a aula. No entanto, o amigo também estava atrasado e Marcus resolveu voltar para casa. Neste momento, acontecia uma operação ilegal na favela, mas os meninos ouviram apenas um tiro. Para Marcus não voltar sozinho, o colega se dispôs a acompanhá-lo até em casa.

“O João* tirou a blusa da escola e foi caminhando com meu filho. Quando eles viraram na rua onde a gente mora, eles viram um blindado da CORE. O Marcus parou e falou: ‘Vamos voltar porque o blindado está parado ali. Você sabe o que acontece quando se passa na frente de um blindado: eles dão tiro’. Os policiais nem esperaram o Marcus virar e atiraram” conta Bruna da Silva, mãe do menino. 

Marcus Vinicius da Silva era estudante do Ciep Brisolão Operário Vicente Mariano, localizado na Vila do Pinheiro, uma das favelas do Complexo da Maré. O adolescente era conhecido por sua dedicação nos estudos. Desde a morte de Marcus Vinícius, Bruna usa a blusa da escola do filho manchada com sangue como instrumento de justiça na luta contra a violência do Estado. 

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“Enquanto eles davam assistência para o meu filho [no hospital], fiquei olhando aquela blusa rasgada cortada, vi a manchinha de sangue dele. Aí eu falei: ‘É com essa blusa de escola que eu vou esfregar na cara do Estado e da sociedade quando tudo isso passar, quando o meu filho ficar bem. É com essa blusa que eu vou esfregar na cara dos governantes deste país o tratamento que é dado às crianças dentro da favela’”, relembra Bruna da Silva.

Marcus chegou consciente no hospital e contou para mãe que viu que o tiro partiu do carro blindado. A perícia aponta que o disparo que atingiu o adolescente teria partido do chão. Marcus foi baleado nas costas e o tiro foi dado em linha horizontal. 

“Quando eu cheguei na UPA o Marcus Vinícius me fez uma pergunta que todo dia essa pergunta me aparece:” Mãe, o que foi que eu fiz? Eles não me viram com roupa e material da escola, mãe? Logo comigo?” Essas foram as perguntas que ele me fez”, relata Bruna.

Além de Marcus, Bruna é mãe de Maria Vitória e atua na mobilização da Redes da Maré. Após a morte do filho, ela se tornou ativista na luta contra a brutalidade policial nas favelas cariocas. Para ela, a violência do Estado é contínua e segue matando inocentes.

“Até hoje ninguém foi responsabilizado pela morte do Marcus. Até hoje a família não recebeu nenhuma reparação por parte do Estado. A reparação que eu esperava receber era uma resposta: quem atirou no meu filho. Em dia de operação aqui na Maré, eu, como mãe de filho vitimado pelo Estado, me escondo e guardo minha filha onde a polícia não alcança. Só tenho ela!”, conta Bruna da Silva.

*João é um nome fictício para não identificar a testemunha.

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