Secretária da saúde de Cuiabá sofre ataques racistas durante sessão virtual na Câmara Municipal

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secretária de saúde de cuiabá sofre racismo em seção virtual na câmara municipal

Durante uma sessão virtual na Câmara Municipal de Cuiabá, Ozenira Félix, Secretária de Saúde de Cuiabá (MT), sofreu mais um ataque racista. Na ocasião, ela chorou e relatou que vem sofrendo injúrias raciais desde outubro de 2020, quando assumiu o cargo. O desabafo ocorreu na última terça-feira (27).

Ozenira Félix diz que se encontrou como negra depois dos 50 anos – Foto: Luiz Alves/ Prefeitura de Cuiabá 

“Desde que assumi a pasta, começaram comentários nas redes sociais. Não era nada explícito, mas eu percebia que o que estava por trás era o racismo. Colocavam em dúvidas a minha capacidade, mas os argumentos nunca eram técnicos, sempre se referindo à minha figura”, assume Ozenira, em entrevista ao Brasil de Fato.

Os ataques nas redes sociais aconteceram entre os dias 24 e 25 de abril, após vereadores denunciarem que haviam remédios vencidos no Centro de Distribuição de Medicamentos e Insumos de Cuiabá, quando a secretária foi chamada a prestar esclarecimentos. Contudo, as injúrias são recorrentes na carreira da secretária e ela relembra as falas discriminatórias proferidas por seus colegas de trabalho, ainda quando atuava na direção da Secretaria Estadual de Saúde, no governo de Blairo Maggi. “Uma vez, eu estava conversando no celular e disse: ‘Preciso desligar porque estou entrando no gabinete do governador’. Aí, um prefeito que estava ouvindo minha conversa comentou: ‘Meu Deus, uma preta achando que vai entrar no gabinete do governador! Para fazer limpeza?’ Na época, eu ignorei e entrei. Mas aquele sentimento fica”, relatou a secretária de saúde de Cuiabá.

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A secretária, entretanto, afirma que só despertou o seu pensamento crítico para pautas de cunho racial quando ingressou na Secretaria Municipal de Saúde, que começou a enxergar de perto os problemas estruturais da sociedade. “Eu despertei para esse problema social. Demorou demais, estou com 55 anos. Em outras épocas eu deixaria para lá e continuaria trabalhando. Só que, quando vi toda essa situação, as dificuldades da população negra no acesso ao Sistema Único de Saúde, isso mexeu comigo”, afirma.

Ocupando um cargo composto majoritariamente por homens brancos, a secretária vem percebendo a dimensão do racismo na sua trajetória. “Temos diversas situações que envolvem [racismo] no dia a dia, e eu ainda assumi [o cargo] em um momento de pandemia. Tem a questão de assumir uma função dessa com o impacto, e estou contando a minha história por causa disso, pelo impacto de eu ser negra. Esses dias eu tenho sentido o que não senti na minha carreira inteira”, expôs na Sessão virtual.

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