Quilombo Saracura: movimento luta para que obras do metrô preservem história negra do Bixiga, em SP

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Antiga quadra da Vai-vai deu lugar à nova estação 14 bis que Movimento quer rebatizar Saracura Vai-vai. Foto: Linha UNI / Divulgação

Um novo movimento de resistência e direito à memória tem ganhado as ruas do tradicional bairro do Bixiga, na região central de São Paulo. É que moradores, historiadores, sambistas da escola Vai-vai e membros do movimento negro paulistano estão lutando para que a construção da futura estação 14-Bis, da Linha 6-Laranja do metrô não apague de vez a história negra do bairro, que já está sendo chamado de a “Pequena África oculta de SP”.

No local da escavação, que abrigava a quadra da Vai-vai – antes de ser desapropriada, foi encontrado um sítio arqueológico, com objetos do que foi um dia o Quilombo Saracura. Os vestígios estavam a 3 metros de profundidade. A luta do grupo intitulado “Movimento Saracura Vai-Vai”, desde então, tem sido realizar ações para defender a preservação do sítio. Entre elas está um pedido de audiência ao Ministério Público de São Paulo para que o órgão intervenha. O Movimento quer também a suspensão das obras da futura estação 14 Bis, que deve ser rebatizada de estação Saracura Vai-Vai.

Antiga quadra da Vai-vai deu lugar à nova estação 14 bis que Movimento quer rebatizar Saracura Vai-vai. Foto: Linha UNI / Divulgação

Saracura era o nome de um córrego que passava nas imediações e que deu nome ao quilombo que um dia marcou a região. Com a construção do Metrô, o Bixiga passa por uma nova onda de valorização que pode ser um importante passo para que o bairro – que um dia foi sinônimo da cultura italiana, faça as pazes com a sua história negra.

“Se houver a tentativa do apagamento, faremos uma disputa em todas as áreas, jurídica, na academia, nos escritos, nas imagens e junto à população”, afirma Sérgio Pereira, membro do movimento Saracura Vai-Vai e professor de história ao Portal R7.

De acordo com a concessionária Linha Uni, os materiais arqueológicos encontrados são oriundo de épocas mais recentes, como louças, vidros e moedas. Ao todo, nove sítios arqueológicos foram encontrados durante as obras ao longo dos 15,3 quilômetros de construção. Além da 14 bis, também foram encontrados materiais históricos nas estações Freguesia do Ó, Água Branca, Santa Marina I e II, Sesc Pompeia, São Joaquim, Tietê e Sara de Souza.

Movimento Saracura Vai-vai protesta em frente as obras do metrô. Foto: Tatiana Cavalcanti/Folhapress

O material resgatado agora está sob guarda provisória da empresa A Lasca, que é especializada em arqueologia. Neste momento, eles passam por análise e curadoria. Após este processo, será produzido um relatório complementar a ser entregue ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Após o término do estudo, os materiais deverão seguir para o Centro de Arqueologia de São Paulo, da Secretaria Municipal de Cultura, instituição de apoio a essa pesquisa, autorizada pelo Iphan.

De acordo com a Linha Uni, os objetos poderão fazer parte do acervo do Centro de Arqueologia de São Paulo, que pertence ao Departamento do Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura, “ou serão identificadas alternativas de exposição em conjunto com a comunidade do entorno”. A empresa diz também que construiu paredes de contenção no local para que “arqueólogos possam iniciar a escavação e para que a continuidade das obras mantenha a integridade do patrimônio cultural”.

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