Projeto Orientação Afirmativa propõe enegrecer a produção de ciência no Brasil

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Um em cada quatro estudantes matriculados em programas de mestrado e doutorado no Brasil é negro, segundo dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a agência do Ministério da Educação (MEC) voltada à pós-graduação no Brasil. O levantamento é de 2018 e escancara a desigualdade nos espaços acadêmicos no Brasil, mesmo após a adoção da reserva de vagas para negros, indígenas e pessoas com deficiência em cursos de pós-graduação em instituições federais. Para aumentar a quantidade de negros no mundo da pesquisa, o projeto Orientação Afirmativa, criado por alunas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), realiza tutoria gratuita e acessível.

A pesquisa do MEC citada revelou que, embora a reserva de vagas para negros, indígenas e pessoas com deficiência em cursos de pós-graduação tivesse sido adotada em instituições federais, o aumento da inserção de pessoas negras não apresentou crescimento relevante.

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Ao observar essa realidade, surgiu o grupo de estudo pré-acadêmico Orientação Afirmativa (OA), no ano de 2017, através do trabalho voluntário das alunas da pós-graduação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Pâmela Guimarães-Silva, Mayra Bernardes e Lucianna Furtado. “Percebemos que embora tivesse sido implementada uma política de reserva de vagas para candidatos negros, essa ação contempla apenas a classificação de candidatos já aprovados em todas as etapas”, conta Pâmela Guimarães.

Guimarães observou a necessidade de que as aulas de preparação para os alunos incluísse formações complementares como inglês instrumental e metodologia de pesquisa. “O processo seletivo manteve algumas medidas que privilegiam estudantes de classe média e egressos da própria UFMG: por exemplo, a proficiência em idioma estrangeiro como etapa eliminatória no processo seletivo e a dinâmica de escolha dos planos de estudos e projetos de pesquisa, vinculada a autores e perspectivas específicas, desproporcionalmente acessíveis para quem já se encontra inserido na UFMG e nos grupos de pesquisa”, ressaltou.

A inciativa oferece aulas de inglês e metodologia, e, além disso, promove o estudo dos textos indicados no edital da seleção e prepara os candidatos para entrevista, que é uma das fases do mestrado. Durante esses cinco anos, 21 estudantes que receberam a orientação por parte do projeto foram aprovados no mestrado de comunicação na Federal de Minas Gerais e também em outros programas de pós-graduação.

Vivian Campos foi uma dessas estudantes aprovadas que retornou para ser tutora voluntária e conquistou a aprovação de outros dois colegas. “Quando penso sobre o Orientação Afirmativa e sobre as mudanças que ele provocou nas estruturas do programa de pós graduação de comunicação da UFMG, penso em uma frase da Angela Davis que faz muito sentido para mim e acho que resume bem o projeto, que foi criado por três mulheres negras e agora segue coordenado  por uma mulher negra: “quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”,  exalta Campos.

Outra aluna do programa, que também voltou para ser tutora foi Nana Miranda, que caracteriza o projeto como um “pequeno quilombo acadêmico”.  “Me senti amparada como se tivesse sido pega pela mão. Desde a formulação de um problema de pesquisa até a formatação do pré-projeto de pesquisa. Mesmo tendo feito TCC da graduação e da especialização, eu sabia pouco”, conta Miranda ao lembrar o caminho de construção e de conquista do mestrado com o apoio do programa.

Mentoria Afirmativa

Inspirada pelos resultados alcançados pelo projeto, Pâmela também criou uma página para auxiliar estudantes que desejem produzir pesquisas e ciências no país. Ela lembra, citando Sueli Carneiro, que espaços de produção do saber são também espaços de poder. “É deles que surgem os conhecimentos, as vozes, os entendimentos legitimados… que darão origem a políticas públicas, livros, sistemas educativos, sistemas de saúde, etc”, observa Guimarães ao destacar a importância de que pessoas negras ocupem esses espaços: “Ampliar a participação de pessoas negras nesse espaço é mudar essa lógica, não apenas da academia, mas do mundo”, finaliza

Outros programas com ações de apoio

Coletivo Acadêmicas Negras

Curso preparatório para programas de pós-graduação a nível de mestrado e doutorado voltado para pessoas negras

Globalizando

Programa de idiomas que funciona como um cursinho mesmo incluindo turma, professor… Focado no Programa de sustentabilidade corporativa da ONU.

Academia Linguistica

Destinado a alunos de baixa renda de todas as idades. O estudante escolhe um autor a ser trabalhado no idioma original, aprendendo o idioma através da literatura.

Français Afro

Ensino gratuito da língua francesa para pretos e pretas.

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