Preso por suspeita de roubo, jovem estava trabalhando no momento do crime

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Rafael Ribeiro Santana, de 27 anos, trabalhava com entregas no Parque da Independência (SP) e está preso desde julho deste ano, após ser acusado de ter roubado um celular. Porém, segundo provas da família e amigos, o paulista estava trabalhando no momento do ocorrido.

Rafael está preso há 100 dias – foto: Arquivo Pessoal

A reportagem publicada na última quarta-feira (6) pelo Ponte Jornalismo remonta o caso de Rafael, preso há mais de 100 dias por um suposto roubo. Segundo a reportagem, no dia do ocorrido, o jovem, a pedido de seu empregador, foi ao supermercado comprar salsichas – que trabalha com vendas de alimentos. O estabelecimento fica a 1,6 quilômetro do parque onde, segundo denúncia, teria acontecimento o roubo do celular.

Na volta das compras no supermercado, o jovem encontrou dois amigos. Um perto do supermercado e outro próximo do parque. Como havia levado, no mesmo dia, os sobrinhos para brincarem no parque Independência, Rafael foi abordado por um casal. Os dois o acusaram de ter roubado o celular da filha deles, uma criança de 10 anos.

Naquela tarde, o casal proibiu Rafael de deixar o local até que a Polícia Militar chegasse e o prendesse. Desde 26 de julho, o jovem está preso no Centro de Detenção Provisória II de Guarulhos.

Contradições existentes

De acordo com a defesa e os familiares, o jovem tem ao seu favor dois fatos que comprovam a inocência. A nota fiscal da compra das salsichas e o registro das câmeras do supermercado. As filmagens de 17 de julho mostram Rafael nas dependências da empresa, às 14h25, nove minutos antes da criança ter sido roubada, em torno das 14h34-segundo o boletim de ocorrência.

Vídeo das câmeras de segurança do Supermercado apontando o horário que Rafael entrou no estabelecimento

Em outras imagens, gravadas pelo amigo do jovem, fica evidente o constrangimento do homem ao ser acusado e exposto em praça pública pelos acusadores. “Você está me acusando de uma coisa que eu não fiz”, rebateu no vídeo. Ao mesmo tempo, a mãe da menina diz ter visto o roubo. Logo após, aparece o chefe de Rafael garantindo que o empregado estava no supermercado durante o ocorrido.

Vídeo do momento em que Rafael é abordado pelo casal

O Delegado se recusou a ouvir o chefe de Rafael

Entrevistada pela reportagem da Ponte, Daiane Ribeiro Santana, irmã de Rafael, descreveu os momentos após a prisão do jovem. “Na hora que as viaturas chegaram, ele ligou para a mulher dele, que estava em casa, e pediu para ela ir buscar as crianças no parque porque estava acusando ele de roubar um celular”, relatou.

“Quando eu cheguei lá, vi a vítima conversando com o delegado, que me disse que não tinha o que fazer porque a vítima já tinha reconhecido ele. Nisso eu falei que iria atrás dos meus direitos e o Valter [um dos chefes de Rafael] chegou na delegacia falando que queria dar o depoimento dele e o delegado se recusou, alegando que a vítima já tinha reconhecido”, completou.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do estado respondeu sobre o caso de forma genérica, informando que “a Polícia Militar deteve um homem, de 26 anos, após roubo de celular ocorrido em 17 de julho, em um parque localizado na Avenida Nazaré, no Ipiranga. O suspeito foi conduzido ao 17º DP, onde foi reconhecido pela vítima. O inquérito policial foi relatado à Justiça em 22 de julho e o autor apresentado em audiência de custódia”, finaliza a nota. 

No entanto, para a advogada Thayná Yaredy, que preside a deFEMde (rede feminista de juristas), o caso de Rafael é grave do ponto de vista processual. “…nós sabemos que todos os dias temos um Rafael no mundo. O direito brasileiro não deu conta ainda de praticar a igualdade que permeia um dos princípios da Constituição Federal e os princípios de processo penal vigentes quando se trata da aplicação de pena para pessoas negras”, lamenta a advogada.

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