“Precisei fazer substituições por que a carne está muito cara”: famílias sentem peso da inflação na falta de alimentos em suas refeições

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Roseni Nascimento, de 39 anos, ou Rose, como prefere ser chamada, faz parte de 70% dos brasileiros que sentiram no bolso o peso da inflação em 2021. Com os níveis altos, o brasileiro perdeu R$62,00 do poder de compra, ou seja, menos comida na mesa das famílias. 

Rose é autônoma. Ela comanda a Feijoada das Empoderadas na cidade de Salvador, na Bahia, e com acúmulo inflacionário de 22,06% sobre a carne ela contou estar fazendo “das tripas coração”.

Inicialmente a gente ia com R$200, R$250 fazer a feira para guia e vinha com bastante coisa. Hoje não conseguimos trazer quase nada, foi necessário reduzir a quantidade de carne, fiz algumas substituições  e precisei aumentar o valor da feijoada porque a carne tá um absurdo, tudo na verdade está muito caro”,  diz. 

Para Rafael Ramos, economista, pós graduado em Gestão Empresarial e Consultor a incapacidade da equipe econômica do atual governo influencia neste cenário:

A escala da inflação brasileira reflete o cenário econômico do país que atual é extremamente crítico, é inegável não considerar a pandemia nesta leitura, mas também tem a incapacidade da equipe econômica do atual governo. Essa instabilidade é refletida na imagem externa do Brasil e caem no nível de investimentos estrangeiros, isso vem causando fuga da moeda estrangeira, pressionando o câmbio, a alta do dólar,e a equipe  econômica precisa estar muito mais ativa”, explica Rafael Ramos.

A economia brasileira de maneira grosseira está “descendo ladeira abaixo” é o que expõe a pesquisa da Focus do Banco Central, a qual revela que a inflação está em 9,33%. O estudo desenvolvido pelo Índice de Preços do Consumidor Amplo ( IPCA ) prevê inflação de dois dígitos até o abril de 2022.

Ramos expõe como este aumento inflacionário para dois dígitos impacta o poder de compra das famílias negras e pobres brasileiras:  

As famílias pretas e periféricas são duplamente impactadas pois sofrem dificuldade de retornar ao mercado de trabalho e com a falta de Auxílio do Governo. Mesmo com carteira assinada e trabalhando na informalidade elas ainda estão limitadas, com a inflação crescente vai podar ainda mais o valor de compras dessas que deixaram de comprar itens essenciais como alimentação, bebidas, transportes e outros elementos para residência”, pontua. 

Rose espera que os preços baixem logo: “Com toda certeza que os produtos baixem de preço, não aguento ver os valores aumentarem e o carrinho ficar cada vez mais vazio. É uma situação muito delicada“, diz.

Dentro deste cenário a cesta básica se tornou um elemento importante para compor a nutrição familiar. Porém, em São Paulo este item fundamental ficou em R $650,50, com uma variação de 1,56%, ou seja, 7-10 reais de diferença. A cesta básica mais barata é a de Aracaju, no valor de R $456,40, em seguida Salvador com R $485,44. Com os altos valores o pagamento do Auxílio Emergencial foi reduzido, saindo de R$600,00 para R$150,00 facilitando que muitas famílias não tenham um elemento fundamental para sua sobrevivência, a comida. 

Leia também: Inflação dispara, atinge 10% em 12 meses e afeta refeições da população, aponta FVG

Rafael Ramos explica que há escassez de insumos internos porque eles são importados:

Com a desvalorização do real internacionalmente o movimento feito é exportar produtos para incentivar o câmbio, e automaticamente esvaziar o mercado interno gerando uma escassez do produto. O desespero por não poder comer direciona as pessoas para os lixões e novamente podemos ver a ineficácia da equipe econômica. Pois, se elas buscam comida no lixo e em outros lugares inapropriados é porque carecem de auxílio para satisfazer suas necessidades, o que é extremamente necessário. A carne também segue cotada internacionalmente, mas a demanda interna também é alta e nossa moeda está extremamente desvalorizada“, explica. 

Ramos diz também que é o principal grupo afetado com déficit econômico são as mulheres negras chefe de famílias: 

As mulheres pretas são as pessoas que mais desempenham trabalho na sociedade e também as que mais sofrem com desigualdade salarial. Então, com o aumento da inflamação elas são as que mais sofrem porque muitas chefiam famílias, elas também sofrem com o acesso ao mercado de trabalho formal. Então, ao olhar o recorte negativo econômico os grupos mais impactados serão os negros e pobres“, concluiu. 

A pesquisa do Indicador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada comprova que famílias pobres sofrem 10 vezes com a alta da inflação, de janeiro a setembro de 2020. Nos primeiros meses de 2020 a elevação para famílias ricas atingiu 0,2% da renda, enquanto para famílias periféricas alcançou a marca de 2,5% da rentabilidade.  

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