“Para eles uma mulher negra nunca poderia questionar um homem branco”, diz deputada que denunciou governador do Rio à ONU

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Deputada Estadual Renata Souza (PSOL RJ) Foto: Caio Oliveira

Há 10 dias a deputada estadual Renata Souza (Psol-RJ) foi surpreendida com um pedido de cassação de seu mandato por parte do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel. Dias antes, a parlamentar, que é a primeira mulher negra a presidir a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), denunciou Witzel a órgãos internacionais após o governador sobrevoar o município de Angra dos Reis e disparar rajadas sobre uma determinada uma localidade.

A ação executada por  homens da Polícia Civil, foi orquestrada e acompanhada pelo próprio Witzel que filmou e postou o vídeo em suas redes sociais. Nas imagens o governador afirma que “ia botar fim na bandidagem”. Witzel estava  dentro do helicóptero da Core (Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais), ao lado do prefeito da cidade, Fernando Jordão, do secretário estadual de Polícia Civil, Marcus Vinícius de Almeida Braga, e do subsecretário Operacional da Polícia Civil, Fábio Barucke.

Deputada Estadual Renata Souza (PSOL RJ) Foto: Caio Oliveira

Os documentos enviados pelo gabinete da deputada a ONU e a OEA questionam o sobrevoo e apontam que desde a campanha até assumir o governo do estado, Witzel faz declarações que incitam a violência, como ao dizer que é preciso “abater traficantes”, construir a “nossa Guantánamo”, e “atirar nas cabecinhas” dos criminosos.

Para Renata Souza a atitude de Witzel é uma tentativa de intimidação: “Minha função enquanto deputada é justamente olhar as violações de Direitos Humanos e fiscalizar o poder público. Por isso fiz um informe a ONU e a OEA explicando o que acontecia no Rio de Janeiro. Minha surpresa foi ver o governador, ao invés de apresentar as respostas, pede a minha cassação. Ele está querendo intimidar a ação de uma deputada eleita, tentando censurar minha ação enquanto parlamentar. Se uma deputada não pode mais exercer sua função, isso é perigoso, quer dizer que a democracia está em risco. Eu não serei silenciada. Não serei interrompida”.

A Alerj rejeitou o pedido de cassação do mandato da deputada. O presidente da Casa, André Ceciliano, disse que Renata “agiu com a autonomia que é devida ao parlamentar”, ao fazer a denúncia. O pedido de cassação do mandato da parlamentar foi feito pelos líderes do governo, Márcio Pacheco, e do partido na Alerj, Bruno Dauaire, além do deputado Sérgio Louback, todos do PSC, mesmo partido de Wilson Witzel.

O que está colocado é o terrorismo de estado contra os corpos negros. O racismo político do qual eu sou vítima é o que mata todos os dias preto, pobre e favelado”

Segundo Renata Souza, o pedido de cassação exemplifica o racismo político: “A perseguição política que eu estou sofrendo demonstra não apenas o seu racismo (por parte do governo) como também todo um processo de cassação de direitos de uma sociedade. É importante que a gente analise o quanto ter uma mulher negra, da favela, dentro desses espaços de poder, questionando um outro poder, causa incômodo. Para eles uma mulher negra nunca poderia questionar um homem branco. O que está colocado é o terrorismo de estado contra os corpos negros. O racismo político do qual eu sou vítima é o que mata todos os dias preto, pobre e favelado. “

Mesmo após todos saberem que o documento enviado aos organismos internacionais partiram do gabinete da deputada e não da Comissão de Direitos Humanos, conforme os deputados da base do governo afirmavam erroneamente, os deputados da bancada do PSC decidiram dar seguimento ao processo na Comissão de Ética da Alerj.

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