“Não vamos aceitar a barbárie como método político”

Eleita Deputada Estadual no Rio de Janeiro, pelo PSOL, com mais de 60 mil votos, Renata Souza acredita que a eleição de mulheres negras, vindas de favelas, é uma resposta política a um crime político. ‘Cria da Maré’, como ela mesma se denomina, um dos maiores complexos de favelas do Rio, Renata Souza chega à Assembleia Legislativa com um grande desafio: enfrentar um parlamento com uma bancada forte do PSL, partido do presidente eleito Jair Bolsonaro, o qual a deputada faz oposição.

Formada em Jornalismo pela PUC do Rio, Renata atuou como comunicadora popular por mais de 15 anos, em diferentes favelas. Em 2017 concluiu seu doutorado na UFRJ onde defendeu a tese “O Comum e a Rua: Resistência da Juventude Frente à Militarização da Vida na Maré”. Renata Souza foi assessora do Deputado Estadual Marcelo Freixo (PSOL) por 10 anos e nos últimos dois anos ocupava o cargo de chefe de gabinete da Vereadora, e sua amiga há 18 anos, Marielle Franco, assassinada em março de 2018. Um crime que até hoje permanece impune.

 

 

“Marielle deu um corte concreto na história e na vida de mulheres negras. Ela ocupou um espaço que é nosso por direito. A chegada de mulheres negras neste espaço traz para gente uma enorme responsabilidade. Marielle é reconhecida mundialmente pelo trabalho que fez para superar as desigualdades sociais, raciais e econômicas. Para isso ela peitou os brancos que jamais aceitariam que uma mulher preta pudesse falar da maneira como ela sempre se colocou nos debates públicos. Para eles é um acinte que mulheres pretas falem em pé de igualdade com eles”, diz a parlamentar.

Para a deputada, a sua eleição e de outras três deputadas negras do PSOL no Rio de Janeiro (Mônica Francisco e Dani Monteiro estaduais, e Talíria Petrone, federal) significa um desejo da população por mais representatividade. A nova composição da Alerj, com mais de 50% de novatos na Casa, não reflete para Renata Souza uma verdadeira renovação: “O que temos na Alerj hoje é o aumento da bancada da barbárie. Anteriormente tínhamos nas casas legislativas a bancada da bala, a da bíblia e a do boi. Vemos hoje na Alerj a junção da bancada da bala com uma outra bancada que se está se reorganizando a partir de uma lógica pouco democrática e civilizatória de ocupação da política pública, que se configura na bancada da barbárie. Então, não temos uma renovação da forma, talvez tenhamos uma renovação do método”.

Enquanto defensora dos Direitos Humanos, Renata Souza receia que o avanço dessa bancada da barbárie leve ao retrocesso dos direitos adquiridos: “Nós sabemos quem vai sofrer mais, são as mulheres e a nossa juventude negra, que são os que mais morrem. Nós não vamos aceitar a barbárie como método político. Nossa eleição para este espaço de poder é carregada de muita responsabilidade, mas também de um grito que está retraído dentro da sociedade, não só por mais representatividade, mas por mais presença de trabalhos concretos e qualificados”.

Um dos primeiros atos da Deputada Renata Souza será propor o fim das operações policiais em horário escolar. Dados da ONG Redes da Maré mostram que em 2017 as escolas da região ficaram fechadas por 35 dias ao longo do ano letivo devido a operações policiais. Isso significa que mais de 15 mil alunos ficaram sem aula: “Hoje as crianças estão morrendo dentro das escolas. Impedir operações policiais próximo a unidades de ensino nos horários de entrada e saída de alunos é garantir o direito de ir e vir, é a defesa da vida e da educação”, diz a parlamentar.

Outro grande desafio de Renata Souza na Alerj será manter a Comissão de Direitos Humanos da Casa sob comando do PSOL.  Tradicionalmente a Comissão é presidida por nomes de esquerda, quem comanda a pasta atualmente é o Deputado Marcelo Freixo, do PSOL. O PSL que detém a maior bancada da Casa, entretanto, já disse ter interesse em presidir a comissão. O partido da família Bolsonaro tem como um de seus líderes na Alerj o deputado Rodrigo Amorim, que ficou conhecido por rasgas a placa da vereadora Marielle Franco.

 

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