Na CPI da Covid, pai que perdeu filho desabafa: “a nossa dor não é ‘mimimi’”

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Na tarde desta segunda-feira (18), o taxista Márcio Antônio Silva chamou de “deboche” algumas falas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), durante as declarações na CPI da Covid-19, realizada no Senado Federal. 

Márcio se emocionou durante o depoimento à CPI da Covid – Foto: Reprodução TV Senado

Pai de Hugo Dutra do Nascimento, Márcio perdeu o filho em abril de 2020 em decorrência de complicações do novo coronavírus. Ele disse que os parentes de pessoas que perderam a vida mereciam pelo menos um pedido de desculpas do presidente da República. “Eu acho que nós merecíamos um pedido de desculpas da maior autoridade do país. Porque não é questão política – se é de um partido, se é de outro. Nós estamos falando de vidas de pessoas. Cada depoimento aqui, eu acho que, em cada depoimento, um sentiu o depoimento do outro e acrescentou o que o outro tinha para falar, entendeu? Então, a nossa dor não é mimimi, nós não somos palhaços, entendeu? É real, sabe?”, desabafou Márcio. 

A fala do pai fez referência às declarações do presidente Bolsonaro, em março deste ano, quando ele disse que as pessoas que saíram às ruas não se acovardaram. “Vocês não ficaram em casa. Não se acovardaram. Temos que enfrentar os nossos problemas. Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando?”

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Márcio lembrou que o momento mais doloroso foi quando teve que reconhecer o corpo do filho “em um saco”, como ele mesmo disse. “O último momento que eu tive com o meu filho, que eu fui reconhecer, ele estava dentro de um saco. Eu tive que orar bastante, pedir a Deus para conseguir ir lá e reconhecer o meu filho, porque, como pai, era a última coisa que eu tinha que fazer por ele. Eu não pude dar um abraço no meu filho, eu não pude dar o último beijo”, emocionou. 

Ele lembrou ainda que chegou a levar uma roupa para vestir no filho como ato simbólico e nem isso teve a oportunidade de fazer. “Eu cheguei a levar uma roupa para vesti-lo. Não consegui fazer nenhum ato simbólico, e um dos atos simbólicos: eu tive que ficar parado três horas, na porta do cemitério, ou quatro, olhando um carro, sabendo que o meu filho estava ali dentro, para ser enterrado”, afirmou.

“Então, a minha dor não é ‘mimimi’. Não é, não é. Dói para caramba mesmo – dói, dói. Não aceito que ninguém aceite isso como normal. Não é normal. Não é minha só, não. É de todas as pessoas que perderam, de todas as pessoas que perderam pessoas tão queridas, porque todas são queridas”, finaliza.

Momento em que o homem derruba uma das cruzes do ato – Foto: Reprodução / Globo News

Márcio ficou conhecido após um ato em homenagem às vítimas, realizado na praia de Copacabana, que terminou em confusão. No meio dos protestos, um homem que não participava dos atos começou a derrubar as cruzes, Márcio, indignado, fincou os objetos novamente na areia. 

Senador defende presidente

O filho do presidente Jair Bolsonaro, senador Flavio Bolsonaro (Patriota-RJ), saiu em defesa do pai, com vídeo publicado pela sua assessoria. Nele, o senador diz que o pai “fez o dever de casa” e que “fez e continuará fazendo o que está ao seu alcance”.

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