Movimentos negros cobram posicionamento de autoridades de Portugal contra o racismo

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Coletivos negros fizeram um pedido às autoridades políticas de Portugal, para que combatam o racismo e a expansão da extrema direita no país

A sede do SOS Racismo foi pichada na última semana – Foto: SOS Racismo

Na última quinta-feira (13), um grupo de coletivos negros publicou uma carta aberta intitulada O Silêncio é Cúmplice, exigindo um posicionamento das autoridades em relação aos casos de racismo frequentes que vem acontecendo no país e os ataques que os coletivos negros vêm sofrendo. O movimento relata que, há algumas semanas, a fachada da sede do Instituto SOS Racismo foi pichada com a frase “Guerra aos inimigos da minha terra”.

No documento, o grupo lembra também da omissão e a falta de suporte do Estado quanto ao assassinato do ator Bruno Candé, que foi morto com quatro tiros, em julho, por um idoso de 80 anos, que já tinha insultado o ator dias antes com falas racistas. “Ao invés disso, da parte do Estado, tivemos a pronta declaração pública do Comissário do Comando Metropolitano de Lisboa (Cometlis) da PSP, minimizando as motivações racistas neste assassinato. Embora a investigação estivesse apenas a começar e nem fosse da sua tutela”, destaca a carta.  

No último sábado (8), o grupo de extrema direita nacionalista fez uma passeata em frente à sede do SOS Racismo, com referência ao Ku Klux Klan, movimento racista que surgiu nos Estados Unidos no século XIX.

Grupo de extrema direita português fez passeata referenciando a KKK – Foto: Ricardo Cabral Fernandes

Assinaturas

A carta, assinada por 34 grupos antirracistas, critica os líderes de partidos portugueses por negarem a existência do racismo em Portugal. “Depois de os líderes do PSD e PCP terem negado a existência de racismo em Portugal, vieram agora outras figuras desses partidos timidamente tentar dar sinal contrário, mas sem emendar o erro. O líder do PSD chega ao ponto de mostrar-se disponível para um entendimento com o Chega [outro partido português] se este for mais moderado, mostrando o quão indiferente lhe é, política e eticamente, o trajeto de incitamento ao ódio racial e desprezo pela democracia que o Chega tem realizado”, aponta.  

Ameaça feita ao movimento antirracista  

Na terça-feira (11), dirigentes dos movimentos e três deputadas de esquerda receberam um e-mail onde constava ameaças dirigidas a eles e aos familiares, dando 48 horas para que saíssem do país. O e-mail foi assinado pela Nova Ordem de Avis- Resistência Nacional.  

Mammadou Ba, dirigente do SOS Racismo, em entrevista ao Renascença se diz preocupado com a ameaças. “A preocupação é real, quero lembrar que há poucas semanas foi assassinado o Bruno Candé em plena luz do dia. O racismo mata. Obviamente que, quando uma ameaça assume esse tom, depois daquela demonstração do Ku Klux Klan em frente à nossa sede, só podemos estar preocupados. Por nós próprios, pelas nossas famílias, pelas organizações que representamos”, diz. 

Mamadou Ba, dirigente do SOS racismo – Foto: Gerardo Santos / Global Imagens

O ativista ressalta que não quer nenhum mártir e que as ameaças motivam ainda mais a luta antirracista. No mesmo dia em que recebeu as ameaças, o SOS Racismo fez denúncia junto à Polícia Judiciária que já iniciou as investigações.  

O movimento Resistência Nacional se posicionou ao canal RTP, descartando a participação no ocorrido e diz que o movimento repudia qualquer intimidação física ou psicológica a quem quer que seja.

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