MEC ignora campanha que pede adiamento do Enem 2020 e abre inscrições para o exame

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Já são mais de 11 mil mortos no Brasil e 45,9 milhões de brasileiros que não possuem acesso à internet, mas o Governo Federal insiste em manter a prova do Enem para novembro deste ano

Provas do Enem. Foto: Reprodução

Em meio a pandemia da Covid-19, o Governo Federal segue com o calendário do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2020 e mantém as provas para novembro deste ano. A inscrição para a prova começou nesta segunda-feira (11) e se estendem até 22 de maio, no site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira Legislação e Documentos (Inep). No entanto, a campanha “Adia Enem” busca pressionar o Ministério da Educação (MEC) para que os estudantes não precisem realizar a prova ainda em 2020 diante de todas as incertezas que o país passa no momento.

Os últimos dados oficiais da Secretária de estados da saúde confirmam
165.475 casos confirmados e 11.309 mortes pela doença causada pelo novo coronavírus, até a noite deste domingo (10). Em entrevista ao G1,
Alexandre Lopes, presidente do Inep, informou que “não dá para fazer previsão para o que vai acontecer daqui a 2 ou 3 meses”.

“Por enquanto as datas estão mantidas, a gente vai fazer as etapas preparatórias, nós estamos cumprindo as etapas. Agora, com o tempo vamos avaliar, não dá para fazer previsão para o que vai acontecer daqui a 2 ou 3 meses. As etapas necessárias nós estamos cumprindo”, declarou Alexandre Lopes, nesta segunda-feira.

Enquanto isso, a baiana Elza Bastos, 25 anos, busca uma vaga na Universidade Federal da Bahia (UFBA), mas com a pandemia não está conseguindo estudar. “Pra ser sincera, não iniciei meus estudos, por falta de concentração. Não é fácil sentar em frente ao computador e procurar material de estudo, pensando como será o dia de amanhã, no que fazer para se alimentar, entre outras coisas. Acho realmente que a prova do Enem deveria ser suspensa no ano de 2020, tenho a impressão, que está sendo um ano perdido principalmente pra educação do País. Isso tudo só mostra o quanto essa prova é desigual com a população, e o sentimento que tenho é de desrespeito”, comenta a jovem.

Elza Bastos é dançarina, mas não possui o nível superior. A jovem acredita que a qualificação é importante para conquistar seu espaço no mundo. “Eu sendo mulher e preta, sabendo de todo o racismo, machismo, entre outros preconceitos que vivo diariamente, acredito eu que só em estar inserida nos cursos que almejo fazer, a minha realidade será outra, não adianta você ter só a experiência, que é o meu caso, e não ter um curso. E com a graduação completa, o olhar dos contratantes serão outro ao analisar o meu currículo”, finaliza.

As aulas em toda a rede estadual estão suspensas, sendo que mesmo antes da pandemia os estudantes secundaristas de escolas públicas já relatavam dificuldades na preparação para o Enem. A adolescente Maira Santana, 16 anos, é estudante do segundo ano do ensino médio e tinha interesse em fazer o Enem 2020 para testar seus conhecimentos. No entanto, a jovem não conseguiu isenção por não ser concluinte do ensino médio e o valor de R$ 85 é alto para a sua família pagar neste momento. Maira é uma das jovens que não tem todas as aulas regularmente em sua escola desde antes da pandemia, mas sonha em ser professora de sociologia e formar outros jovens.

“Esse tempo está sendo complicado pra mim e acredito que pra muitos alunos que vivem a estudar de incertezas. Há dias que de seis aulas só tenho uma e mesmo assim gastei meus R$ 4 de passagem. O Enem é um exame bem complexo e não temos o costume de ter simulados na escola, (acho importante que tivesse). É importante pra mim fazer o Enem, porque quero ser uma profissional que forma novos profissionais. Quero desenhar possibilidades para minha geração e para as próximas de se formar. A universidade particular não é uma opção pra mim se não conseguir bolsa de 100%, então partiu lutar pela Federal”, explica Maira esperançosa.

Elza e Maira são jovens com acesso à internet, mas o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) através de dados coletados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Tecnologia da Informação e Comunicação (Pnad Contínua TIC) aponta que 45,9 milhões de brasileiros ainda não possuem esse acesso em 2018, no Brasil. Ou seja, 1 em cada 4 brasileiros, cerca de 25,3% da população com 10 anos ou mais de idade, estão sem acesso à internet no país.

Destes 45,9 milhões de brasileiros que não acessavam a internet, 32,2 milhões estão em área urbana e 13,7 milhões, em região rural. A pesquisa não destaca etnia, mas aponta que em 2018, o celular era o único meio de acesso à internet em 45,5% dos domicílios do país e o computador era utilizado em 48,1% dos domicílios do Brasil. Quase a metade das pessoas que não têm acesso à rede (41,6%) afirmam que não sabem usar as ferramentas e para 11,8% das pessoas, o serviço de acesso à internet é caro e para 5,7%, o equipamento necessário para acessar a internet, como celular, laptop e tablet, também tem custo elevado para o orçamento familiar.

Consequentemente, a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) em parceria com a União Nacional dos Estudantes (UNE) criaram um site para coletar assinaturas a favor do adiamento do Enem. As entidades estudantis também anunciaram o Dia Nacional “Adia Enem”, nesta sexta-feira (15) através das redes sociais.

O Ministro da Educação, Abraham Weintraub, constantemente usa suas redes sociais para informar que “o ano não pode ser perdido” e que países que passaram pela pandemia já estão voltando, no entanto os números crescentes de contaminados e mortos mostram que o Brasil ainda não pode ser classificado como um país que passou pela pandemia. Países com exames de acesso à universidades, como a China, Estados Unidos da América, Malásia, Colômbia, Russia, Irlanda, Espanha, Gana, Singapura, cancelaram as provas.

Um grupo de deputados federais pedem que o Decreto Legislativo nº 167/2020, que solicita a suspensão o edital da prova de 2020, seja aprovado em regime de urgência. O texto, que já foi encaminhado para o plenário, prevê o adiamento da prova e discussão de novas datas. A iniciativa é do deputado Professor Israel Batista (PV-DF) com coautoria de Tabata Amaral (PDT-SP), Eduardo Bismarck (PDT-CE), Célio Studart (PV-CE), Danilo Cabral (PSB-PE), Raul Henry (MDB-PE) e Tereza Nelma (PSDB-AL).

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