Joice Berth sobre Black Money: ‘Interessante, porém inviável para uma negritude que não aprendeu a se respeitar’

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Autora do livro “O que é empoderamento?”, arquiteta e urbanista, Joice Berth é bem ativa nas redes sociais, veículo de comunicação que ela usa para compartilhar pensamentos e questionamentos em torno de diversas situações da vida cotidiana. Há, contudo, um pensamento comum por trás de suas reflexões: fazer parte do movimento negro é mais do que se resumir a estereótipos comportamentais, é entender-se como indivíduo, entender o outro como um indivíduo diferente e entender que a junção desses dois, que acontecerá também nas diferenças, formará  uma comunidade forte e plural.

A percepção desta proposição faz-se necessária para compreender a crítica que a escritora faz sobre o Black Money, movimento que estimula o consumo de produtos e serviços de empresas criadas e/ou gerenciadas por pessoas negras.

“Creio que temos que ter um consumo consciente, que respeite o meio ambiente de todas as formas. Por isso gosto muito do veganismo e evito consumir coisas politicamente comprometidas como, por exemplo, marcas que testam em animais ou mantém trabalho escravo. Não é fácil, porque estas marcas dominam o jogo. Nessa linha, acho o Black Money interessante, porém inviável para uma negritude que não aprendeu a se respeitar. Então, as pessoas compram de quem elas têm afinidade, de quem compactua com as práticas colonizadoras que a negritude emulou da branquitude, entre outros absurdos que vejo e só não me adoecem porque tenho uma espiritualidade bem equilibrada e acredito na lei do retorno”, explica Joice Berth.

Nessa onda falsa de “nós por nós”, já fui desrespeitada por pessoas negras que precarizam o trabalho de outras pessoas negras.

A autora contextualiza o seu ponto de vista com experiências vividas por ela ao longo de sua vida profissional:

“A maioria das minhas leitoras é branca. Ironia é que o livro traça o caminho de ressignificação do conceito de empoderamento que nasce com um homem branco, que quase é cooptado por outro homem branco até cair nas mãos de brilhantes intelectuais feministas negras norte-americanas como Bell Hooks e Patricia Hill Collins, por exemplo. Nessa onda falsa de “nós por nós”, já fui desrespeitada por pessoas negras que precarizam o trabalho de outras pessoas negras. Prestei serviços, como arquiteta, para uma grande empresária preta que até hoje não me pagou e entregou meu trabalho nas mãos de pessoas brancas para ser executado pagando dez vezes mais do que tinha me oferecido. O mais triste é que eu não sou a única. Então, teremos Black Money quando tivermos ‘black counsciousness’”.

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