Inspirado em suas vivências de homem negro e gay, álbum do cantor Ricardo Alves chega às plataformas digitais

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Autoral, o disco une influências setentistas ao pop, em letras que revelam o olhar sensível do cantor para vivências pessoais

A Aparelha Luzia, centro cultural e quilombo urbano de São Paulo, vai ser palco para o show de lançamento do  álbum do cantor Ricardo Alves, ‘As Irrefreáveis Flores de Vida’, neste domingo (14), às 20h. Ricardo fará uma apresentação intimista ao lado dos músicos Diego Bittencourt (guitarra solo), Diego Fehrer (bateria), Marcos Costa (baixo) e Daniel Codespoti (violão e guitarra base).

No último dia 5, chegou às plataformas digitais o disco de estreia do cantor e compositor. O artista retira das próprias vivências de homem negro e gay a inspiração para as letras confessionais que, aliadas às sonoridades de rock e pop rock, criam um álbum de uma intensidade ímpar no contexto da música brasileira atual.

Composto por 14 faixas autorais, o disco conta com produção musical do próprio Ricardo, em parceria com Guilherme Eddino – também cantor, compositor e multi-instrumentista -, que tem trajetória ao lado de nomes como Cida Moreira.

“Bem incomum”, como classifica Eddino, o processo criativo da obra musical teve início em 2013, durante as aulas de técnica vocal que Ricardo fazia com o produtor.

Autoral, o disco une influências setentistas ao pop, em letras que revelam o olhar sensível do cantor para vivências pessoais

“Quase sempre, o Ricardo chegava com a canção praticamente finalizada em termos de estrutura, melodia, harmonia, arranjo, e tudo isso sem saber tocar um instrumento. Ele desenvolvia tudo na cabeça dele, já com uma ideia bem concreta da sonoridade, dos acordes e das dinâmicas. Minha contribuição veio mais em forma de detalhes, como algumas dobras de voz ou sugestões de cadência”. O toque final veio dos músicos da banda que acompanha Ricardo, que trouxeram uma boa dose de peso e energia”, lembra Eddino.

Para Ricardo, As Irrefreáveis Flores de Vida é, sobretudo, “uma apologia sincera à vida. Vidas negras, das mulheres, da comunidade LGBT”, que o compositor aborda a partir da própria experiência de mundo.

“Sou preto, bicha, cis, homem, rondoniense, Brasil profundo radicado em São Paulo, migrante, de esquerda, classe média da era Lula. Quis encontrar no meu específico o que me extravasa. Nesse embate lindo entre a interioridade e a tradição, vasculhei em busca de sons e palavras para construir essa minha primeira obra”, diz o compositor sobre o processo criativo.

Os preparativos para o lançamento tiveram início em janeiro, quando as plataformas receberam os singles Menino e São Paulo. No primeiro, Ricardo Alves canta o prazer erótico por um rapaz, em versos que tateiam o corpo masculino – os dentes, o cheiro, a firmeza da pele e os pelos do Menino. Em São Paulo, um rock com influência setentista, Ricardo Alves canta sobre duas metrópoles: a primeira, interior, de sonhos, anseios e incertezas; a segunda, exterior, a própria cidade de São Paulo, com seu povo aglomerado, o concreto cinza e os viadutos faraônicos.

Destacam-se ainda no disco as músicas Latifúndio, inspirada na conturbada relação do compositor com seu pai, cujos versos “O largo segredo/Eu era menino/ Meu pai, eu nunca fui-lhe o filho” são exemplo da intensa poesia confessional do cantor; bem como Preta, uma homenagem à sua mãe.

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