Indígenas denunciam ao STF tratamento humilhante do governo federal durante reunião

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A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) enviou relatório ao Supremo Tribunal Federal (STF) denunciando a humilhação que representantes indígenas foram submetidos por representantes do governo federal em uma reunião ocorrida na última sexta-feira (17) para tratar do combate ao coronavírus entre esses povos. De acordo com os indígenas membros do governo federal ameaçaram e ofenderam o grupo com palavras chulas.

“A experiência vivida por eles foi de um tratamento desastroso, humilhante e constrangedor, situação à qual nenhum cidadão merece passar, sobretudo diante de autoridades do governo brasileiro”, diz o relatório.

Segundo a Apib, a reunião foi marcada com o objetivo de humilhar os povos indígenas e tentar intimidá-los. O encontro foi o primeiro após a decisão do ministro Luís Roberto Barroso, no dia 08 de julho, de criar uma “sala de situação” para debater o assunto e buscar formas para tratar do combate à pandemia entre esses povos. O ministro também determinou que o Poder Executivo garantisse acesso ao sistema de saúde a indígenas vivendo também em áreas não homologadas.

No relatório enviado ao STF os representantes indígenas destacam que o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, disse que o governo atenderia apenas indígenas em terras demarcadas. Os demais seriam tratados como produtores rurais. “Uma fala totalmente inapropriada para os objetivos da sala de situação, que tem por objetivo discutir situações de emergências dos povos indígenas isolados e de recente contato neste contexto de pandemia do Covid-19”, diz o documento. Ainda segundo a Apib, o secretário Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Robson Santos da Silva, chamou os povos indígenas de “cínicos, levianos e covardes”.

Dados da Apib revelam que até o início deste mês mais de 10,3 mil casos de coronavírus foram contabilizados entre indígenas. Em contrapartida, a Secretaria de Saúde Indígena do Ministério da Saúde afirmava que, naquele momento, eram 6,8 mil casos da doença. Ao denunciarem o genocídio dos indígenas brasileiros e a falta de ações coordenadas do poder público para proteger povos isolados e de recente contato, membros da Apib teriam sido fortemente repreendidos pelos integrantes do governo.  Segundo a associação um representante do governo federal responsável pela mediação da reunião bloqueou o microfone na hora que uma líder indígena iria se manifestar. Para a Apib, o gesto mostrou que o governo não estava interessado em ouvir os povos indígenas sobre o assunto. Ao documento, foi anexada gravação integral e ata da reunião. A entidade pede a ampliação do número de representantes indígenas na sala de situação.

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