Homem negro é acusado de sequestrar o próprio filho por ser pai adotivo de um menino branco

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Peter, homem negro, de Uganda, foi acusado por uma mulher branca de ter sequestrado o seu próprio filho, um menino loiro de sete anos 

Anthony, Johnny e Peter. Foto: Arquivo pessoal

Peter foi a um restaurante com Johnny, nome fictício utilizado pela BBC para se referir ao garoto, quando pôde observar que o menino estava discutindo com uma outra criança. Rapidamente Peter retirou Johnny do lugar, que se contorcia nos braços do pai, mas no caminho em direção ao carro os dois foram surpreendidos pela pergunta “Onde está a mãe desse menino?” perguntou a mulher. Peter respondeu que era o pai dele. A mulher que ligou para a polícia afirmou que achava que um homem negro estava sequestrando “um garotinho branco”.

Peter que é pai adotivo de dois meninos brancos contou em entrevista que passa constante por episódios de racismo. Um outro caso foi quando Peter e o seu filho mais velho, Anthony, 13 anos, foram parados pela segurança do aeroporto que precisou verificar se Peter tinha antecedentes criminais para posteriormente liberá-los.

Contato com a adoção

Com quarentena e poucos Peter se voluntariou para trabalhar em uma ONG recebendo crianças em sua casa que ficavam sob os seus cuidados durante um tempo determinado. Durante três anos, ele acolheu nove crianças até que pudessem reencontrar as suas famílias biológicas. Foi em uma dessas situações que Peter foi procurado por uma agência de doação para receber Anthony, na época com 11 anos, pois o menino precisava de um local urgente para morar temporariamente. Hoje, Anthony é o primeiro filho adotivo de Peter. Johnny, o mais novo, chegou para os cuidados de Peter este ano através de um pedido também da agência de doação. A família do garoto passava por problemas financeiros por causa da pandemia de coronavírus.

Sabendo da realidade que pessoas negras são submetidas, Peter se dedica a construir uma educação antirracista com os filhos, ensinando a eles que todas as pessoas devem ser tratadas com respeito e igualdade e como devem agir caso ele seja vítima de uma situação de racismo. “Eu sempre digo a Anthony: ‘Se a polícia me parar, por favor, pegue o telefone e grave imediatamente.’ Porque eu sei que ele é minha única testemunha, sabe? E eu tenho 10 segundos para salvar minha vida. “, contou. 

Adoções inter-raciais

No Brasil, fatores como raça, idade e problemas de saúde diminuem as chances de uma criança ser adotada. Dados das pessoas que pretendem se tornar pais adotivos que constam no Cadastro Nacional de Adoção demonstram que 92,47% aceitam crianças brancas. Já em relação a aceitação de crianças negras, esse número cai para 55,33%. Essas informações ainda apontam que entre os 42.480 pretendentes à adoção, cerca de 84% não aceitam crianças que tenham mais de seis anos e 62% não concordam em adotar crianças com deficiência ou alguma questão de saúde.

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