Governo critica ideia de retirar trechos racistas da obra de Monteiro Lobato

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Cleo Lobato, bisneta do escritor Monteiro Lobato (1882 – 1948), teve a ideia de adaptar clássicos do bisavô ao contexto atual. Sendo assim, ela suprimiu termos racistas, como “negra beiçuda”, usado para descrever Tia Anastácia, personagem da famosa obra “Sítio do do Pica-pau Amarelo”. Cleo retirou a expressão na nova coleção, chamada “Reinações de Narizinho”. Mas a decisão não agradou em nada o governo Bolsonaro.

Para Mario Frias, secretário de Cultura do governo, a ideia é absurda. O ex-galã de Malhação recorreu às memórias da infância para desqualificar o trabalho de Cleo.

“Que absurdo. Monteiro Lobato sendo editado. Quantos livros e histórias maravilhosas que embalaram minha infância. Vergonha!”, escreveu, em sua conta oficial do Twitter.

Crédito: Agência Iconographia

Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares, foi ainda mais incisivo. Além de criticar a releitura removendo trechos racistas, como a explícita passagem “trepou que nem uma macaca de carvão”, ele bateu na tecla do vitimismo – e se colocou como porta-voz de todas as pessoas negras do Brasil.

“Mutilação politicamente correta de obra literária, promovida por quem deveria defender o legado do bisavô. É crime! Nenhum preto pediu! Não vemos racismo na obra de Monteiro Lobato! Exceto afromimizentos, ínfima minoria, pretos odeiam a ridícula tutela da branquitude marxista”, postou, também no Twitter.

Os argumentos da bisneta

Em “Reinações de Narizinho”, Cleo Lobato propõe a humanização da personagem Tia Anastácia. “O que fiz foi pegar a personagem e a chamei pelo nome”, explicou, em entrevista à Folha de S. Paulo. “A gente queria uma versão atualizada, cujo teor fosse compatível com os valores sociais contemporâneos, mas que mantivesse o estilo do Lobato. Nós não a desvirtuamos, porque a original continua lá, existindo e disponível. Se eu tenho a possibilidade de me posicionar de maneira positiva, eu escolha a mudança”.

Embora proponha a releitura e a retirada de visões de cunho discriminatório das obras do bisavô, Cleo foi categórica ao afirmar que “Monteiro Lobato não era racista”.

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