Filha lembra dia em que Desmond Tutu impediu que multidão queimasse jovem

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Nontombi Naomi Tutu em frente à casa da família em Cape Town 28/12/2021 REUTERS/ Sumaya Hisham

Fonte: Agência Reuters

Enquanto a África do Sul celebrava a vida do herói antiapartheid e arcebispo Desmond Tutu, que faleceu no domingo, uma de suas filhas mencionou o dia em que ele impediu que uma multidão enfurecida queimasse um jovem vivo como uma das lembranças que lhe dão mais orgulho.

Em 1985, o país se encontrava em estado de emergência enquanto partidos liberais clandestinos, incluindo o hoje governista Congresso Nacional Africano, tentavam aumentar a pressão política e depor o governo de minoria branca.

Em um enterro em julho daquele ano nos arredores de Johanesburgo, arquivos de imagens de vídeo mostram Tutu, claramente visível em seus trajes clericais púrpura, repelindo pessoas revoltadas que espancavam e chutavam um homem indefeso encolhido em posição fetal no chão empoeirado.

Acusado de ser um colaborador do apartheid, o homem é encharcado de gasolina e está a momentos de lhe colocarem um pneu no pescoço coberto de líquido inflamável e ser incendiado. A intervenção de Tutu e outros clérigos o salva.

“Ver isso e vê-lo entrando. Havia muitas coisas surpreendentes naquilo”, disse Nontombi Naomi Tutu, uma de quatro filhos de Tutu, à Reuters diante da casa da família na Cidade do Cabo.

Desmond Tutu
Vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 1984 por resistir de maneira não violenta ao regime do apartheid o arcebispo Desmond Tutu morreu aos 90 anos

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“Uma foi que ele teve a coragem de entrar na multidão e dizer ‘não, não é assim que fazemos’. Mas a outra é que aqueles jovens ouviram… ainda havia aquele respeito por meu pai e os outros clérigos… este é meu momento de maior orgulho, aquele que, quando penso no que me deu orgulho de meu pai, é a coisa que sempre me vem.”

Tutu usou o púlpito para pregar contra o regime de minoria branca repressivo da África do Sul, que terminou nos anos 1990, e discursava com frequência em enterros de jovens ativistas mortos pelo aparato de segurança do Estado.

Nontombi, de 61 anos, que também é uma reverenda e tem uma semelhança notável com seu pai lendário, também se lembrou ternamente das viagens da família de Alice, no Cabo Oriental, à Suazilândia, onde ela e os três irmãos frequentaram a escola.

“Ele era um pai normal. A única coisa que tenho para dizer, por mais que minha mãe fosse a disciplinadora, é que, quando meu pai dizia algo como ‘estou muito decepcionado’, aquilo doía, era muito duro, e era por isso que nunca queríamos decepcionar meu pai, porque custava muito decepcioná-lo”, contou Nontombi.

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