Estudo mostra o aumento das buscas pelo termo ‘Racismo Estrutural’ no Google nos últimos 10 anos

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Um levantamento realizado pelo coletivo Lojukoju mostrou que, entre janeiro de 2010 e dezembro de 2020, o termo “o que é racismo estrutural” teve um crescimento exponencial. De acordo com dados do Google Trends, que mostra a evolução do número de buscas por uma palavra-chave ou tópico ao longo do tempo, o interesse na pergunta “O que é racismo estrutural?” foi recorde em 2020 no Brasil. Ainda segundo o Google, nunca se pesquisou tanto sobre racismo estrutural desde 2004, quando iniciam os registros contidos na plataforma, como no mês de junho de 2020. 

Faixa contra o racismo em manifestação nos Estados Unidos – Foto: Kelly/Pexels

De acordo com Tainá Medeiros, pesquisadora do Coletivo, o aumento no número de buscas por racismo estrutural e outros termos associados ao debate racial coincidem com o período da morte de George Floyd, em maio de 2020. “A morte de Floyd desencadeou a maior onda de protestos contra o racismo das últimas décadas, se multiplicando em atos políticos por vários outros países, o que gerou uma cobertura massiva da mídia nacional e internacional em torno dos protestos e de sua motivação racial”, comenta.

Aumento de notícias 

Ainda segundo Tainá, a pesquisa constatou também um aumento significativo no número de matérias veiculadas nos últimos dez anos abordando o tema “racismo estrutural”. Ela ressalta que os meses de captação e análise das notícias foi entre janeiro de 2010 e outubro de 2020. Foram analisadas 737 matérias, sendo que, entre 2010 e 2016, foram localizadas uma quantidade tímida de textos que citavam racismo estrutural. A partir de 2017, os números avançaram, com 144 citações e posteriormente, em 2018, 150, chegando em mais de 200 textos com o termo racismo estrutural, em 2019. 

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Tainá enfatiza que esses números mudaram por que a conjuntura da comunicação independente também mudou. “Dentro deste espectro podemos destacar a existência de veículos criados e conduzidos por profissionais negras e negros que se impõem contra a mídia hegemônica ao lutarem pelo deslocamento do lugar da população negra apenas como objeto da notícia, passando a assumir nela um papel protagonista que constrói outras narrativas, mais diversas, críticas e propositivas sobre si mesma”, afirma. 

Entre 2010 e 2016, a veiculação de notícias foi tímida – Foto: Divulgação/Lojukoju

Outro ponto que merece destaque, é uma reflexão indispensável sobre a incidência política dos movimentos negros como um dos fatores que influenciaram a inflexão observada no número de matérias publicadas a partir do ano de 2017. 

A pesquisadora ressalta ainda que não pode-se atribuir à simples espontaneidade ou repentina tomada de consciência uma mudança tão substancial. “Um exemplo marcante à época foi o caso do jornalista da rede Globo, Willian Waack, que em 2016, antes de entrar no ar durante a cobertura das eleições estadunidenses, o jornalista foi flagrado fazendo comentários racistas em relação a um homem que passava buzinando bem próximo ao local onde aguardava parar entrar ao vivo. O vídeo com as imagens desse momento tornou-se público apenas em 2017, mas ainda sim teve grande circulação e repercussão, o que forçou a afastá-lo de suas funções e posteriormente desligá-lo definitivamente da emissora”, relembra a pesquisadora que complementa. “O episódio trouxe à tona questionamentos sobre o perfil dos profissionais que compõem os grandes veículos de comunicação e como eles dialogam diretamente com o discurso por eles veiculados”.

O pico de matérias usando racismo estrutural é nos meses de novembro – Foto: Divulgação/Lojukoju

Outro ponto expressivo que a pesquisa mostra é o aumento da procura por termos antirracistas e a produção de matérias no mês de novembro. Entre janeiro e outubro de 2020, a média de matérias que citaram o termo racismo estrutural foi de 52 notícias por mês. Porém o mês de maio, devido o assassinato de George Flyd foi um período atípico, chegando a 89 matérias. No entanto, somente no mês de novembro, foram 148 textos citando racismo estrutural e dezembro voltou-se aos patamares dos meses anteriores, com 60 matérias. “A exploração da ideia de racismo estrutural exige uma crítica profunda e radical às estruturas econômicas, políticas e sociais, hoje estabelecidas na sociedade brasileira. Entretanto, a mídia hegemônica brasileira ainda é comandada por integrantes de uma elite econômica majoritariamente branca e que reflete e responde aos interesses do capital privado, o que a posiciona em uma perspectiva ideológica oposta à que a crítica do racismo estrutural propõe”, finaliza. 

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