Estudantes da Maré podem ter até 2 anos a menos de aulas que alunos ‘do asfalto’

Os confrontos armados registrados ao longo do ano de 2017, no Complexo da Maré, conjunto de favelas do Rio onde moram 140 mil pessoas, resultou, além de mortos e feridos, em 35 dias de escolas fechadas, segundo dados da ONG Redes da Maré.

O número de operações policiais e de confrontos entre traficantes rivais na Maré no ano passado foi, coincidência ou não, exatamente o mesmo, 41. Durantes esses confrontos as 45 escolas da região fecham as portas e aproximadamente 15 mil crianças não tiveram aula, o que corresponde a 17,5% a menos que os 200 dias letivos obrigatórios por ano.

Segundo Lidiane Malanquini, coordenadora de projetos sociais da ONG Redes da Maré, instituição que contabilizou estes dados, se mantida essa dinâmica de fechamento de escolas por conta de confrontos armados, ao final dos 14 anos do ciclo escolar da Educação Básica, os estudantes da Maré terão perdido 490 dias letivos, o equivalente a dois anos e meio de escolarização : “O estado estrutura a educação de um lado e esse mesmo estado, através da Segurança Pública, faz com que as escolas não funcionem. Em2017, as escolas na Maré fecharam 35 dias. Se isso se repetir ao longo da Educação Básica de um aluno da Maré, ele terá dois anos e meio de aula a menos do que qualquer outro estudante da cidade, que não viva em área de confrontos constantes. Como é possível que esse aluno faça a prova do Enem com a mesma capacidade que um menino que estudou nas melhores escolas? Não tem como”.

A violência e os confrontos armados no Rio de Janeiro afetam o desempenho de estudantes de comunidades de todo o Estado.  Um levantamento feito pelo Volt Data Lab e pelo aplicativo Fogo Cruzado revela que 46% das 1.886 escolas e creches públicas do Rio registraram pelo menos um tiroteio ou disparo no seu entorno, entre fevereiro de 2017 e fevereiro de 2018. Os confrontos aconteceram em um raio de 300 metros de distância de 871 unidades de ensino.

A Cidade de Deus, na Zona Oeste a cidade, é a região onde ficam algumas das escolas mais vulneráveis do Rio. Das 17 unidades de ensino mapeadas na comunidade, cinco têm registrado um tiroteio ou disparo, nos arredores, a cada três dias.

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