Estudante de gastronomia diz ter sido perseguido e acusa supermercado de racismo: “Ladrãozinho”

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Na última segunda-feira (24), mais um boletim de ocorrência sobre racismo foi registrado na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, no Rio de Janeiro. O alvo dessa vez foi Bernardo Marins.

Para comemorar o seu aniversário, o cake designer e estudante de gastronomia propôs fazer um bolo para celebrar a data. Como não tinha todos os ingredientes em casa, foi ao supermercado comprar os que faltavam. Segundo Bernardo, assim que entrou no Extra, no bairro Alcântara, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio de Janeiro, começou a ser seguido pelo segurança do estabelecimento, que passava pelo rádio comunicador as características do jovem. Incomodado com aquela situação, Bernardo foi ao gerente do supermercado relatar o que tinha acontecido.

“Chamei o gerente e falei sobre o ocorrido, e ele disse que não era racismo, que o segurança só estava andando pelo mercado e que não era comigo”, contou o jovem, em entrevista ao Notícia Preta.

Como o gerente foi em defesa do funcionário, Bernardo resolveu ir embora. Na saída do estabelecimento, o segurança chamou o jovem de “ladrãozinho”. Bernardo então voltou ao gerente e pediu para que o revistasse, mas o mesmo não quis. Ao jornal Extra, Bernardo disse que é preciso que os seguranças façam um treinamento.

Bernardo foi ao mercado comprar ingredientes para fazer seu bolo de aniversário (Foto: Reprodução/Facebook)

“Já aconteceu isso antes lá, e eles não fizeram nada para mudar. O segurança me seguia toda vez que eu ia lá, mas essa foi a primeira vez em que eu fui humilhado. Depois que eu postei meu depoimento, muita gente disse que sofreu a mesma coisa lá” afirma.

Depois do racismo sofrido, o estudante fez um desabafo em sua rede social que viralizou. “Fiquei com uma sensação horrível, me senti envergonhado, intimidado, queria sumir daquela situação”.

Através desse depoimento, Bernardo contou que conheceu a sua advogada, que o instruiu a fazer um boletim de ocorrência.

“A minha advogada ligou para a 74 DP, mas a delegacia não quis registrar o ocorrido como racismo. Após essa negativa, fomos Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, no centro do Rio, onde conseguimos registrar o boletim de ocorrência”.

O Grupo Pão de Açúcar, administrador do Extra, disse que, assim que tomou conhecimento do fato, iniciou um processo interno de apuração na loja e afastou o segurança de suas atividades. No último dia 20, entrou em contato com o cliente para se desculpar.

Racismo recorrente

Atitudes racistas têm sido recorrentes na rede de hipermercado Extra. Em 2011, uma criança de 10 anos foi constrangida e acusada de roubo dentro do hipermercado, na Marginal Tietê, em São Paulo, mesmo estando com a nota dos produtos comprados. O hipermercado foi processado e condenado a pagar uma multa de R$ 458 mil.

Já no ano de 2018, dentro do Extra na Frei Caneca, no Rio, um adolescente também preto foi agredido depois de consumir produtos antes de pagar. Em fevereiro de 2019, o jovem Pedro Gonzaga foi assassinado por um segurança do Hipermercado Extra, na Barra da Tijuca, também na capital fluminense.

Manifestação

De acordo com Bernardo Marins, os moradores de São Gonçalo, revoltados com mais um caso de racismo no hipermercado, começaram a organizar uma manifestação educativa, marcada para dia 12 de setembro, em frente ao supermercado.

“A ideia é fazer vários cartazes ensinando os seguranças a melhor forma de abordar os clientes. Essa é uma ação que o Extra devia fazer e não está fazendo diante dos casos de racismo que têm acontecido de forma recorrente em suas unidades”, afirmou Bernardo.

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