Especial Eleições: Entrevista com Benedita da Silva, candidata à Prefeitura do Rio de Janeiro

124070557_1540139712837231_2940474045702356332_n.jpg

Foto: Divulgação/Facebook Benedita da Silva

Foto: Divulgação/Facebook Benedita da Silva

Estamos em um ano eleitoral e neste domingo serão decididos os prefeitos e vereadores dos 5.570 municípios brasileiros, pelos próximos quatro anos. Pela primeira vez na história, as candidaturas negras têm o mesmo espaço e verbas destinadas às suas campanhas, conforme determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), e o NP Dados – Núcleo de Jornalismo de dados do Notícia Preta – fez um levantamento das candidaturas negras às prefeituras das principais capitais do país, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo, e uma série de entrevistas foram realizadas com os (as) candidatos (as) aos executivos municipais. As entrevistas seguiram o mesmo critério de perguntas para todos.

Benedita da Silva é candidata a Prefeita do Rio de Janeiro pelo Partido dos Trabalhadores (PT), tendo como vice a deputada Enfermeira Rejane (PCdoB).  Filiada desde 1979 ao PT, Benedita foi a primeira mulher negra a pisar como parlamentar na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro.

Nascida na favela da Praia do Pinto, Benedita morou 57 anos no morro do Chapéu Mangueira, no Leme, Zona Sul do Rio. Formada em Auxiliar de Enfermagem e Serviço Social, foi deputada constituinte em 1988, senadora, governadora por nove meses e ministra da Secretaria Especial de Trabalho e Assistência Social no primeiro governo Lula, momento embrionário do maior programa de combate à fome do mundo, o Bolsa Família.

Confira a entrevista que Benedita da Silva concedeu ao Notícia Preta!

Notícia Preta: Qual a maior dificuldade que uma candidatura preta enfrenta no Brasil?

Benedita da Silva: O preconceito estrutural, que nos deixa sub-representados nas esferas de poder. Apesar de sermos mais de 50% da população, não temos, proporcionalmente, o número de cadeiras nos Executivos e nos Legislativos para desenvolver políticas mais firmes contra o racismo e a desigualdade.

NP: Você acredita que a divisão de tempo de propaganda e verba será real já a partir desta eleição?

BS: Ainda não. Teremos que batalhar muito para aumentarmos a representatividade nos governos municipais, estaduais e federal, aumentar o número de mulheres e homens negros nos legislativos. O avanço que a gente vai verificando nas eleições existe, mas é muito lento, muito pequeno para mudar essa realidade no ritmo que precisamos.

NP:A pandemia veio e evidenciou ainda mais as desigualdades no país, como a prefeitura pode superar esse momento, uma vez que a arrecadação caiu drasticamente. E quais ações podem minimizar essas diferenças?

BS: Temos um programa importante para fazer a economia girar. É um programa de renda mínima, a Moeda Carioca. A pessoa, cadastrada no Bolsa Família, recebe um complemento e um cartão, que só pode ser usado na comunidade onde ela vive, para fortalecer o comércio, preservar e criar empregos. Pode parecer uma coisa simples demais, mas tudo o que precisamos para arrecadar mais e gastar menos é de fazer a economia girar, como Lula fez em seu governo.

Vamos também rever contratos, auditar obras, combater a sonegação do IPTU e do ISS praticada pelos mais ricos. Essa são formas de aumentar o caixa sem penalizar os mais pobres e investir na educação, na saúde, na revitalização de regiões importantes, capazes de unir a cidade, como os bairros da Zona Norte e da Zona Oeste que são cortados pela Avenida Brasil. O principal item do nosso programa de desenvolvimento é mudar o eixo dos investimentos urbanísticos para a Avenida Brasil, atraindo indústrias, estimulando a construção de moradias, criando espaços de lazer, escolas, praças.

NP: Os partidos de esquerda sempre tiveram as comunidades como base. Com a pandemia, como o partido tem visto a campanha e qual a estratégia para a campanha deste ano?

BS: Apesar dos meus 78 anos, estou cheia energia e tenho visitado muitas comunidades, onde sou recebida como deveria ser, como alguém que passou 57 anos morando no morro e, portanto, fala a linguagem do povo, conhece as aflições e sonhos de sua população, a energia da juventude, a força das mulheres.

Nunca esqueci de onde vim nem deixei de lutar pelos meus irmãos e irmãs negras, moradores de favela. Aprendi muito em 40 anos de vida pública, e acho que posso ajudar o Rio de Janeiro a superar essa condição de cidade partida. Eu luto pela diversidade, pela liberdade. Eu sei a diferença que vai ser feita quando o poder público enxergar as favelas e entrar lá com serviços de qualidade. E temos que mostrar que fazer do Rio uma cidade melhor é possível.

Foto: Divulgação/ Facebook Benedita da Silva

NP: Existe um abismo entre a educação pública e privada. Qual a proposta para tentar amenizar essa distância entre os universos públicos e privados quando se fala em educação?

BS: A pandemia serviu para aumentar a distância entre crianças ricas e crianças pobres.  As escolas precisam estar mais bem preparadas para oferecer um ensino de qualidade. Isso significa que, entre outros, temos de fazer um esforço grande pela inclusão digital. As crianças mais ricas têm acesso a tablet, computador, celular e wi-fi. Vamos investir em banda larga nas comunidades, distribuir tabletes ou computadores para que as crianças das favelas e bairros mais pobres consigam assistir aulas à distância. A pandemia mostrou que essa é uma tendência inevitável.

É fundamental a valorização do professor, sem censura ou perseguição ideológica, para um projeto de educação inclusiva. Precisamos tornar as escolas mais atrativas para os jovens e, com isso, diminuir a evasão escolar.

NP: A crise econômica causada pelo coronavírus afetou o grupo mais pobre da população do Estado. Caso seja eleita, o que será feito para aumentar a renda dessas pessoas?

Os prefeitos anteriores só governaram para a parte mais rica da cidade. O objetivo é fazer a economia girar nas favelas, aumentar o emprego. Eu falei aqui sobre a Moeda Carioca, o complemento para as famíilas cadastradas no Bolsa Família.  O dinheiro só pode ser gasto na comunidade, para fortalecer o comércio local.

O Fome Zero Carioca contará com um cartão também, o PF, Prato Feito, para que a pessoa possa comprar comida em bares e restaurants cadastrados. Isso ainda ajuda a manter os empregos nesses estabelecimentos, que sofreram um golpe muito duro com a pandemia.

Vou também criar oportunidades de empregos nas comunidades com o programa Gari comunitário, que vai ser gerido pela Comlurb, e com os mutirões remunerados para reformas nas casas e pequenas obras nas comunidades.

Deixe uma resposta

scroll to top