Em debate: o padrão do corpo da mulher negra

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Em uma sociedade marcada pela visibilidade do corpo, é possível perceber um impacto nesse campo sobretudo para as mulheres negras: a cobrança pelo chamado chamado padrão corporal, semelhante ao de passistas de escola de samba. Mas como lidar quando não se possui esse tipo de corpo?  Para tentar responder a essa questão, o Notícia Preta convidou as psicólogas pretas Ellen Moraes Senra e Lívia Marques.

Psicóloga Ellen Moraes Senra

Para Ellen, que também é especialista em terapia cognitivo comportamental, a não aceitação do próprio corpo pela mulher negra pode trazer problemas psicológicos. “Autoestima baixa, ansiedade em situações de exposição, como por exemplo a apresentação de um trabalho em ambiente acadêmico ou mesmo no ambiente corporativo, além da tão temida depressão”.

A psicóloga também destaca que outros transtornos podem ser desenvolvidos, como os alimentares que costumam ser menos relatados pela população negra. Para ela, a diferença é que o corpo feminino negro traz marcas que não são as mesmas de um corpo branco, onde as estrias se destacam e de fato tendem a chamar mais atenção.

A autoaceitação do corpo da mulher negra é um caminho é longo. ” Desde o nosso nascimento somos obrigadas a nos curvar aos padrões, seja pelas críticas de colegas, pela não aceitação em ambiente escolar ou até mesmo pela falta de encorajamento dos nossos. Mas esse cenário está mudando, e nossa representatividade está presente em cada vez mais esferas.”, relaciona Ellen.

Psicóloga Lívia Marques

A psicóloga Lívia Marques explica que o processo de reconhecimento da negritude é um processo para o negro e para a mulher negra. “Neste caso envolve o corpo físico e também a parte psicológica de quebra de crenças e paradigmas impostos durante tanto tempo. Hoje ver que mulheres que não sabiam a textura do seu cabelo desde os quatro anos de idade e durante a terapia se vê numa transição capilar, que envolve o todo dessa mulher, é muito significativo.”

Mas a desconstrução do corpo ideal em referência ao da passista ainda é um desafio. ” Na verdade a mídia e a indústria de produtos de cabelo, por exemplo, tem percebido que as mulheres negras estão realmente reconhecendo a sua negritude dentro de um padrão europeu imposto desde a colonização e chegada do negro no Brasil. Essa nova realidade tem feito mudar os padrões de cabelos e maquiagens, por exemplo.”, ressalta Lívia.

A psicóloga avalia que o corpo padrão ensinado desde sempre precisa ser desconstruído de uma forma geral. “Uma prática muito bacana que eu gosto é de frequentar rodas de conversa e feiras pretas, onde é possível ver os seus e realmente faz com que você se sinta abraçada. Vá com alguém que te apoie. Mas sempre digo se você percebe que essa mulher não está bem busque auxílio de um profissional de Psicologia. É um processo em muitos dos casos romper com crenças tão enraizadas para a mulher preta.” finaliza Lívia.

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