Eleições 2020: “O Brasil não acontecerá como nação sem as mulheres negras”, afirma Vilma Reis, pré-candidata à Prefeitura de Salvador

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Vilma Reis

Nascida em 1969, em Salvador, Vilma Maria dos Santos Reis, conhecida como Vilma Reis é socióloga, ativista e atuante na luta pelos direitos humanos. Durante os governos de Jaques Wagner (PT), na Bahia, a socióloga assumiu a presidência do Conselho Estadual de Desenvolvimento da Comunidade Negra (CDCN), sendo posteriormente eleita duas vezes como Ouvidora Geral da Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA. Impulsionada por movimentos sociais, Vilma Reis aceitou entrar na disputa para concorrer ao cargo de Prefeita da capital baiana pelo Partido dos Trabalhadores (PT).

O município com a maior população negra fora da África, Salvador, ainda não elegeu uma prefeita ou prefeito negro. Em 2017, 8 em cada 10 moradores de Salvador eram negros, ou seja, se autodeclaravam de cor preta ou parda, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do IBGE. Por isso, o movimento “Eu quero ela”, ganhou força ao reivindica a escolha de uma candidatura negra para a disputa da Prefeitura nas eleições deste ano.

Vilma Reis recebe apoio para sua pré-candidatura. Foto: Ismael Silva

“O que nós estamos fazendo em Salvador, e que começa a repercutir em todo o Brasil – depois daqui o Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul estão fazendo um movimento para ter candidaturas negras -, é histórico. O que nós iniciamos publicamente no dia 2 de julho [ao divulgar através das redes sociais a campanha Bicão na Diagonal, que fala na valorização e poder para mulheres negras] já começou a mudar o Brasil. Nós temos muito orgulho em ser parte de uma geração que afirma uma cultura de esquerda, sem abrir mão de quem somos nós, sem esconder nossas identidades e ao contrário, elas nos fortalecem, elas nos trouxeram até aqui”, afirma Vilma Reis.

“Essa cidade tem 470 anos de hegemonia colonial no poder, na linha decisória do que faz ou não faz nessa cidade, então decidimos interromper essa hegemonia colonial na nossa cidade. Nós acreditamos que uma sociedade de direitos é uma sociedade em que mulheres negras, homens negros e juventude negra tenham direito de existência. Que os povos indígenas tenham direito de existência. O Brasil não acontecerá como nação sem as mulheres negras. Não vão acontecer mudanças de verdade em nossas cidades, em nosso país sem as mulheres negras. Portanto, sem nós o Brasil não vai. É essa a revolução fantástica que está acontecendo. Depois de Benedita da Silva que quase foi eleita como prefeita do Rio de Janeiro há 28 anos, nós retornamos para fazer uma revolução e o bastão foi nos dado por toda essa geração que lutou”, declara a socióloga Vilma Reis.

Em um sábado chuvoso, em Salvador, Vilma Reis lotou o auditório da Faculdade Visconde de Cairu para falar da sua candidatura e receber apoio dos aliados. Foto: Ismael Silva

Para a vereadora de Salvador Marta Rodrigues (PT), é importante eleger mulheres negras, já que representam a maioria da população. “Salvador é uma capital que tem toda a sua história e memória na luta das mulheres negras. Então, quando a gente fala de uma prefeitura, essa prefeitura também tem que dialogar com o que é maioria, o que representa essa nossa cidade. Vilma é um nome forte, um nome importante”, completou a vereadora.

Luiz Alberto (PT), ex-vereador da capital baiana comenta sofre o racismo na cidade. “Salvador possui a engenharia mais sofisticada que o racismo já construiu. É uma cidade onde a cada 100 pessoas, 85 são negras e isso parece que não é visto por ninguém. A não ser pelos negros e negras. Enquanto isso, os brancos transitam no espaço de poder com a maior naturalidade. Eu acho que a candidatura de Vilma, de alguma forma, reflete aquilo que Angela Davis fala sobre quando uma mulher negra se movimenta, toda a sociedade se movimenta”, aborda Luiz Alberto.

Tensionamentos marcam a disputa à Prefeitura de Salvador em 2020

Mesmo com o vasto currículo e apoio de movimentos sociais, Vilma Reis enfrenta grande resistência dentro do PT na Bahia. Rui Costa (PT), governador do estado da Bahia, convidou a Major Denice Santiago, responsável pela Ronda Maria da Penha na Bahia, para uma pré-candidatura à Prefeitura. Também com apoio do senador Jaques Wagner, o nome da major foi apresentado ao ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva.

Jaques Wagner e Rui Costa se encontram com Lula. Foto: Reprodução/ Twitter/Éden Valadares

Nos bastidores da política baiana, especula-se que Rui Costa anuncie no dia 2 de fevereiro, Festa de Iemanjá, o nome de Major Denice como a escolhida do grupo petista. A major só apareceu como opção dos líderes do PT na Bahia em janeiro deste ano, pois no final de 2019, o presidente do Esporte Clube Bahia, Guilherme Bellintani, chegou a se reunir com o governador do estado para tentar uma candidatura pelo partido. Ao que tudo indica, as exigências do presidente do Bahia não agradaram o governador que não fechou acordo.

Já pela corrente interna do PT na Bahia, o Coletivo de Entidades Negras (CEN) lançou a candidatura da secretária estadual de Promoção da Igualdade Racial, Fabya Reis, no começo deste ano.  O deputado federal Valmir Assunção, marido de Fabya, retirou sua pré-candidatura e passou a apoiar a companheira. Filiada ao PT há mais de 20 anos, Fabya Reis é uma mulher negra que também atua em defesa dos direitos humanos.

“O que nós queremos aqui é justamente fortalecer a ideia de o PT ter, nessa quadratura histórica, à frente da disputa de Salvador, uma mulher negra. Então, nós entendemos, respeitamos a trajetória calorosa da nossa companheira Vilma Reis, e chegamos aqui para somar”, declarou Fabya Reis no dia 16 de janeiro de 2020, quando oficializou a sua pré-candidatura.

Fabya Reis e Vilma Reis posam para foto no Partido dos Trabalhadores. Foto: Yuri Silva/Ascom

Alguns dias antes, em 14 de janeiro deste ano, o vereador Moisés Rocha (PT) havia retirado sua pré-candidatura à Prefeitura de Salvador. Mesmo apoiado pelo movimento “Eu quero ela”, Moisés afirmou que direcionaria o seu apoio as pré-candidatas negras do PT, Vilma Reis e Fabya Reis.

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