É Fake! Notícias falsas dizem que pele negra é resistente ao coronavírus

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A publicação de um dos sites que divulgou a notícia falsa

Há duas semanas alguns sites africanos, como o moçambicano intermz.com, noticiaram que o estudante camaronês, Kem Senou Pave Daryl, de 21 anos, que estudava na China, tinha se recuperado de uma infeção do novo coronavírus devido à maior resistência da sua composição genética. De acordo com a falsa informação veiculada, os médicos chineses que cuidaram do jovem teriam ficado surpreendidos com a rápida recuperação e concluíram que se deveu à composição genética africana.

O que realmente aconteceu para a recuperação do estudante de 21 anos foi o fato dele passar 13 dias em isolamento, com um tratamento intensivo à base de antibióticos e, por isso, se recuperou. Além disso não há qualquer indício científico de que a composição genética dos africanos seja mais resistente a doenças do que qualquer outra — os indícios vão em sentido contrário.

De acordo com a BBC News, Kem Senou Pave Daryl recebeu um tratamento pesado à base de antibióticos e medicamentos habitualmente utilizados para tratar doentes com HIV. O jovem tinha febre, tosse seca e sintomas de gripe. Ao fim de duas semanas de tratamento, o estudante começou a dar sinais de recuperação e a TAC mostrou que não tinha vestígios da doença. Ou seja, concluiu-se que estava recuperado. Kem Senou tornou-se assim o primeiro cidadão africano conhecido a contrair o novo coronavírus e a se recuperar.

De acordo com Omolade Awodu, um professor de hematologia da Universidade de Benin, na Nigéria, contactado pelo site de checagem de fatos Africa Check, não há qualquer ligação entre a cura do estudante camaronês e a maior resistência dos africanos ao vírus. “Trata-se de um novo vírus e por isso sabemos pouco sobre ele, mas em toda a pesquisa que fiz não vi nada que confirmasse que a composição genética dos africanos, ou a pele negra, fosse mais resistente ao vírus”, explicou.

Pesquisadoras da USP lideraram estudo feito em tempo recorde que ajuda a entender origem da epidemia

Ester Sabino (esquerda) e Jaqueline Goes de Jesus (USP Imagens e Fapesp/Reprodução)

Enquanto a média em outros países tem sido de 15 dias, pesquisadores brasileiros sequenciaram o genoma do coronavírus apenas dois dias após a confirmação do primeiro caso da doença no Brasil. Os resultados foram produzidos por equipes do Instituto Adolfo Lutz, que confirmou o diagnóstico de um paciente na última quarta-feira (26), e pelas universidades de São Paulo (USP) e Oxford, na Inglaterra.

Entre os pesquisadores que fazem parte da equipe que fez o sequenciamento do sequenciamento do genoma do novo coronavírus, estão as pesquisadoras Ester Cerdeira Sabino e Jaqueline Goes de Jesus.

Jaqueline, que coordenou os pesquisadores responsáveis pelo sequenciamento do genoma do coronavírus, é pós-doutoranda na Faculdade de Medicina da USP e bolsista da agência de fomento Fapesp. Ela desenvolve pesquisas sobre o mapeamento do Zika no Brasil. Ao lado dela, estava Claudio Tavares Sacchi, do Instituto Adolfo Lutz.

O genoma corresponde a todas as informações hereditárias do vírus que estão codificadas em seu DNA. “Ao sequenciá-lo, ficamos mais perto de saber a origem da epidemia. Sabemos que o único caso confirmado no Brasil veio da Itália, contudo, os italianos ainda não sabem a origem do surto, pois ainda não fizeram o sequenciamento de suas amostras. Não têm ideia de quem é o paciente zero e não sabem se ele veio diretamente da China ou passou por outro país antes”, disse à Agência Fapesp Ester Sabino, diretora do Instituto de Medicina Tropical (IMT) da USP.

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