Dados do Ministério da Saúde mostram que pessoas negras foram as que mais morreram por Covid-19 na segunda semana de junho

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Por Victória Henrique

Depois de quase vinte dias do último boletim epidemiológico publicado sobre o coronavírus pelo Ministério da Saúde, a edição divulgada neste mês demonstra que os negros continuam sendo o grupo que mais morre pela doença.

O Ministério da Saúde e a Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS/MS) divulgaram neste mês o boletim epidemiológico de número 18 referente a informações sobre o coronavírus no Brasil e no mundo. Os dados dizem respeito à semana do dia 07/06 ao 13/06. O documento foi publicado após cerca de vinte dias do último boletim e traz novas representações dos óbitos por Covid-19 a partir da raça\cor. Nessa edição, o Ministério da Saúde não indicou as porcentagens de mortes como vinha fazendo: ao invés disso, trouxe a quantidade exata de pessoas mortas em cada uma dessas subdivisões.

Pessoas negras são as mais vulneráveis durante a pandemia (Foto: A Gazeta)

Os negros – a soma de pretos e pardos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – permanecem sendo o grupo que mais morre pela doença, representando 61,3%. Já os brancos, 36,5%. A pandemia que no começo atingiu mais intensamente a população branca, que ocupa as classes sociais mais altas do país, de acordo com pesquisas do IBGE, hoje, já impacta mais fortemente a população negra, desconstruindo um suposto caráter democrático da doença discutido inicialmente. Somente nesta semana a que os dados se referem, 15.709 pessoas negras foram a óbito por coronavírus em comparação a 9.439 pessoas brancas.

As publicações das informações sobre as hospitalizações e os óbitos por Covid-19 com recorte de raça/cor pelo Ministério da Saúde foram resultados da pressão feita ao órgão pelos movimentos negros desde que foram contabilizadas as primeiras mortes no Brasil. No mês de abril, data das primeiras publicações com a configuração de raça/cor, os dados demonstram que os negros têm mais chances de irem a óbito por coronavírus.

Em paralelo ao boletim epidemiológico, que demonstra os impactos das desigualdades estruturais acentuadas em decorrência da presença da pandemia no país, recentemente a Organização das Nações Unidas divulgou o seu relatório do Programa de Desenvolvimento Humano de 2019. Nele, atesta-se que o Brasil está entre os países que possuem baixa transparência sobre informações relativas a desigualdades. O índice mede a atual disponibilidade de dados da desigualdade a nível global, que tem uma escala de 0 a 20. O Brasil, que está há cerca de um mês sem ministro da Saúde, possui índice quatro. Neste mês, o Governo Federal, depois de ter reduzido os boletins epidemiológicos, retirou do site oficial sobre a pandemia os números acumulados de mortos e infectados por Covid-19. Atualmente, estes números estão sendo colhidos nas secretarias de saúde de 26 estados mais o Distrito Federal por veículos de comunicação, que os compartilham por meio dos seus jornais e telejornais.

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