Criadora de conteúdo denuncia ataque racista na internet

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Agente orientou a jovem a não prestar queixa, sendo preciso três tentativas para registrar a denúncia

Izadora Oliveira recebeu ataques racistas nas redes sociais. Foto: Pessoal/Instagram

Izadora Oliveira de Jesus, de 21 anos, começou a receber ataques racistas em uma rede social há cerca de 2 meses, mas só decidiu registrar um Boletim de Ocorrência (BO) quando criaram perfis com sua foto e mensagens de ódio à sua imagem e fenótipos, como nariz largo e cabelo crespo. No entanto, a jovem relata que foram necessárias três tentativas e muita insistência para fazer a denúncia na 18ª Delegacia de Polícia Civil, em Camaçari, na Bahia.

A influencer, com mais de 10 mil seguidores no Instagram, nunca imaginou que a rede social usada para falar de autoestima, identidade e aceitação, seria o mesmo canal que receberia mensagens de ódio. Perfis falsos foram criados para ofender a jovem com mensagens racistas e gordofóbica como “pixaim”, “nariz de panela” e “cheia de celulite”.

“O seu cabelo que não presta e quer sair de você, parece lodo”, escreve o agressor em uma das mensagens. “Você natural é horrível, o cabelo original parece uma bola de Bombril, feia demais, e se acha a mulher linda. Gorda, cheia de celulite, estria, nariz feio, cabelo ruim, sinceramente, você se acha demais”, diz em outra mensagem.

A jovem não sabe quem administra os perfis. Foto: Reprodução

Mas, diante da perseguição e ofensas sofridas, ainda precisou enfrentar outro constrangimento para registrar a denúncia. Na primeira vez que esteve na 18ª Delegacia de Polícia Civil, na última quinta-feira (18), Izadora Oliveira ouviu de um agente que estava no local que ela deveria não se importar com os ataques nas redes sociais. O agente teria dito: “Você é bonita, não deveria se importar”, relata. Ao insistir que precisava do BO para confrontar o agressor nas redes sociais, foi informada que voltasse no dia seguinte.

Já na sexta-feira (19), ao chegar na delegacia, o local estava passando por processo de higienização e os agentes presentes informaram que deveria ir à Defensoria Pública e só estariam registrando crimes de maior gravidade. Mas, finalmente nesta segunda-feira (22), após insistir que não conseguia registrar a ocorrência na internet ou em outros locais, a influenciadora digital conseguiu fazer o registro.

“Me sinto mal, não só pelo ataque, mas por ter tanta burocracia para punir alguém. Isso só mostra que a pessoa pode fazer qualquer coisa com a minha imagem sem ser punida, de cometer racismo por trás de perfis falsos e agir normalmente. A dificuldade e todo o processo na delegacia foi constrangedor, fiquei muito sem graça. E toda a situação de insistir para ter um direito que é meu, isso é horrível. E até na última vez que consegui registrar a queixa, passei 3 horas na delegacia e precisei insistir muito até o policial ir conversar com a delegada que autorizou”, diz a jovem.

Izadora Oliveira também registrou uma denúncia através do app Mapa do Racismo, do Ministério Público da Bahia que faz o mapeamento de crimes de racismo, injúria racial e intolerância religiosa. A Lei de Crime Racial, 7.716, determina que os crimes de preconceito racial tenham a pena de reclusão a quem tenha cometido atos de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, independentemente de o crime ter sido cometido on-line ou offline.

Em nota, a Assessoria de Comunicação da Polícia Civil informa que a negativa de atendimento não é padrão da Instituição e ressaltou que o registro de injúria racial foi efetuado. Ainda assim, para casos de inconsistências nos atendimentos, é possível que o cidadão entre em contato com a Ouvidoria da Polícia Civil. Confira a nota na íntegra:

 A Polícia Civil esclarece que a situação relatada não condiz com o padrão de atendimento da Instituição. Ressalta que foi realizado o registro de injúria racial, em meio ao cumprimento dos protocolos de prevenção contra a Covid-19, entre estes, medidas para evitar aglomerações nas delegacias. Em decorrência da pandemia, as unidades passam por desinfecções regulares e os trabalhos são normalizados logo em seguida. Em caso de inconsistências nos atendimentos, os cidadãos podem entrar em contato com a Ouvidoria da Polícia Civil. Ascom-PC.

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