Glaucoma, doença que pode levar à cegueira, é mais comum em pessoas negras

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O glaucoma é mais comum em pessoas negras e pode levar à cegueira

Segundo o último Relatório Mundial sobre a Visão da OMS, cerca de 11,9 milhões de pessoas tem deficiência visual relacionada ao glaucoma, retinopatia diabética e tracoma. O estudo aponta também que em 2030 o número de pessoas com a doença pode chegar a 95,4 milhões.

O glaucoma tem maior incidência em pessoas negras – Foto: Nappy

Considerada uma das principais causas que levam à cegueira irreversível, o glaucoma é uma daquelas doenças silenciosas, que chegam como se não quisesse incomodar, mas atingindo em cheio um dos cinco sentidos humanos: a visão. Provocada pelo aumento da pressão ocular, o glaucoma é uma doença que atinge o nervo óptico, impedindo que ele leve as informações, de forma gradual, do meio externo para o interno. A doença tem quatro tipos: primário de ângulo aberto, ângulo fechado, secundário, congênito, porém, a mais frequente é o glaucoma primário de ângulo aberto.

Para a oftalmologista Dra. Liana Tito Francisco, a falta de informação associada à dificuldade de acesso aos serviços oftalmológicos e o custo alto das medicações, são fatores que colocam o glaucoma como uma grande preocupação para a saúde da população negra. “É uma doença perigosa, porque nas fases iniciais o glaucoma não provoca nenhum tipo de sintoma, não causa dor, não provoca coceira, não provoca embaçamento da visão. O paciente não percebe, porque a parte central está intacta, o paciente acha que não tem nenhum tipo de doença, porém pode estar em uma situação avançada da doença”, explica Dra. Liana Tito

Segundo o Estudo de Avaliação de Descendência Africana e Glaucoma (ADAGES) III, que observa contribuição genética para o fenótipo de glaucoma, os negros têm quinze vezes mais chance a desenvolver deficiência visual associada ao tipo primário de ângulo aberto. As possibilidades que estão sendo estudadas para que a doença ataque mais pessoas negras são o tamanho do disco óptico, grande volume de copos ópticos e a estrutura do tecido que dá suporte ao nervo dos olhos, que pode ser um dos responsáveis por essa diferença racial. O estudo ressalta que ainda não foi possível compreender essa diferença através das características genéticas entre pretos e brancos.

Dra. Liana Tito ressalta a importância do acompanhamento para quem tem histórico familiar – Foto: Arquivo Pessoal

Nos casos mais raros de glaucoma, de ângulo estreito (fechado), os sintomas são vermelhidão e dor ocular intensa, mas a maior parte dos glaucomas são de ângulo aberto e assintomáticos. Ainda de acordo com Dra. Liana, após todos os exames, o primeiro passo para tentar controlar a pressão intraocular é através de colírios. Quando essa primeira etapa não surte o resultado esperado, o oftalmologista então indica que o paciente faça cirurgia. A médica explica ainda que a doença não tem cura, e que o uso dos colírios ou mesmo da cirurgia vem para reduzir a pressão intraocular a níveis de diminuir o dano ao nervo óptico. “O glaucoma não tem cura, mas tem controle. Nem colírio, nem cirurgia, nem os dois juntos, são capazes de curar e sim evitar a progressão do glaucoma através do controle da pressão”, lembra.

Hereditariedade

Por toda a sua característica, o glaucoma é considerado como sendo uma doença hereditária, então é importante sempre estar atentos aos históricos familiares. Daisy Felício, 41 anos, entende bem a importância de ter o cuidado com a visão e acompanha de perto o histórico familiar. Além de descobrir a ceratocone, doença degenerativa da córnea, a jornalista também foi atrás do seu histórico familiar e constatou que também tem uma prima com a mesma patologia e mais dois casos de glaucoma na família, vindos da avó e da mãe. “Há 11 anos me preocupei em acompanhar a minha saúde ocular, porque descobri que uma prima tinha ceratocone. Logo depois fiquei sabendo que minha avó teve glaucoma, porém não chegou a fazer o acompanhamento e acabou perdendo a visão”, comenta

A jornalista conta que a mãe descobriu o glaucoma aos 58 anos, quando foi fazer uma cirurgia de catarata. Ao notar a doença, os médicos a encaminharam para o tratamento. “Ela faz controle anualmente através do SUS. De três em três meses a clínica disponibiliza de graça os colírios que ela precisa para fazer o controle da doença”, relata.

Daisy Felício (41) e a mãe, Raquel Teixeira (58), fazem acompanhamento através do SUS – Foto: Arquivo Pessoal

Evani Maria de Jesus, 67 anos, sempre fez acompanhamento através da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte. Em 2019, descobriu que a pressão ocular estava um pouco alta, através dos exames de rotina. “Eu não sabia do meu histórico familiar, pois não fui criada pelos meus pais, descobri mesmo através do exame de rotina pelo SUS. Assim que detectaram a doença me deram os colírios que eu preciso pingar todos os dias e um lubrificante“, comenta.

Assim que soube da doença Evani alertou os cinco filhos da importância de se fazer o exame de rotina. No momento ela está aguardando remarcarem o retorno à clínica para realizar um procedimento, pois, somente os colírios não estão diminuindo a pressão.

Quando procurar um tratamento para o glaucoma

Dra. Liana Tito lembra que não é possível prever em quanto tempo uma pessoa com glaucoma pode perder a visão completamente, pois a perda vai acontecendo de forma progressiva, ao longo dos anos, começando pela visão periférica. Dra. Liana Tito lembra ainda que a melhor forma de se prevenir uma doença como o glaucoma é fazendo visitas periódicas ao oftalmologista, para aquelas pessoas que não tem nenhum tipo de doença é aconselhável que façam um checkup anual. Já para aqueles com histórico familiar e doenças pré-existentes, o ideal é fazer um acompanhamento trimestral ou até mesmo semestral. “O principal é entender que o paciente que trata o glaucoma de forma controlada, regular, dificilmente vai evoluir para a perda da visão, por isso é tão importante que a consulta seja regular. O diagnóstico precoce vai fazer com que o oftalmologista inicie o tratamento, e através dele o paciente terá controle e não vai perder a visão. Por isso a consulta é tão importante para prevenir a cegueira”, reforça

O SUS tem o serviço de oftalmologia para adultos e crianças. Normalmente, a consulta é agendada através do sistema de regulação, após a pessoa passar pelo médico da família ou o profissional do posto de saúde. Dr. Liana Tito complementa que o diagnóstico é indolor. “Não tem exame que causa dor, somente a consulta ao oftalmologista com exame do fundo de olho, a medida da acuidade visual, a medida da pressão intraocular, são capazes de diagnosticar o glaucoma”, alerta.

Abril Marrom

Criada em 2016 com a intenção de alertar a população quanto aos riscos da cegueira, e a importância de se cuidar da saúde dos olhos, o mês de abril foi escolhido para abrigar a campanha Abril Marrom, por ser o mês em que é comemorado o Dia Nacional do Braile. A cor marrom foi escolhida por ser a cor da íris.

1 Reply to “Glaucoma, doença que pode levar à cegueira, é mais comum em pessoas negras”

  1. Marília disse:

    Como faço pra ter uma consulta com vcs?

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