Casa de Acolhimento em São Paulo abriga mulheres em situação de violência e vulnerabilidade

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A cada 36 horas, ao menos uma mulher é vítima de feminicídio em São Paulo. Em 2018, 148 assassinatos foram registrados como derivados de violência doméstica ou por “menosprezo ou discriminação à condição de mulher”. Após ser vítima de violência, essa mulher precisa de um acolhimento especializado para que possa reconstruir sua vida.

Um dos locais que abriga estas vítimas é a Casa de acolhimento provisório Rosangela Rigo, a primeira instituição que acolhe mulheres em situação de violência no Estado de São Paulo. Atualmente existe um equipamento na Zona Norte da cidade que oferece 20 vagas para esse atendimento. Funcionando há dois anos o abrigo acolhe mulheres e seus filhos menores de idade, mulheres trans, vítima de tráfico de pessoas e violência sexual. As mulheres atendidas pelo serviço chegam ao abrigo através de um atendimento primário realizado pelos órgãos como Delegacia da Mulher, Centro de Defesa e Convivência da Mulher (CDCM), Centro de Referencia da Mulher (CRM)  e Centro de Referencia Especializado de Assistência Social (CREAS) que acompanham os casos até o momento do encaminhamento ao abrigo.

Claudia Pereira de Sousa é Assistente Social e trabalha como técnica no abrigo e ressalta a importância de realizar o atendimento primário para que a partir daí a mulher possa ser encaminhada à casa de passagem, pois, mesmo não sendo um abrigo sigiloso existem normas de segurança pra que todas sejam efetivamente protegidas isso porque o risco do companheiro seguir a mulher que vai sozinha buscar ajuda é muito grande e isso pode colocar as outras mulheres abrigadas em perigo.

Claudia Pereira de Sousa é Assistente Social do abrigo

“Alguns companheiros mesmo sendo agressores procuram um jornal policial pra falar que a mulher está desaparecida já tivemos casos em que a mulher passou num desses programas e ela estava hospedada lá. O problema é que o programa vai primeiro entender esse caso, não vai a uma delegacia pra ver se tem um registro de violência dessa mulher. O programa coloca essa mulher como desaparecida, e como você vai embarcar essa mulher sozinha num ônibus na rodoviária se tem a foto dela em tudo quanto é canto dizendo que ela está desaparecida? Então, tudo é feito com muito cuidado pra que a gente não coloque essa vítima mais em risco do que ela já está pra gente não reforçar essa violência.”

A mulher que busca o atendimento na casa não precisa necessariamente realizar um Boletim de Ocorrência para ficar abrigada. Algumas delas preferem fazer isso em companhia das orientadoras.  Há casos em que a vitima não registra a denúncia por receio que o autor da violência se torne mais agressivo ao tomar conhecimento e coloque em risco os familiares que estão do lado de fora. Ainda assim existe todo um aconselhamento da importância de formalizar a denuncia. Continua.

Por ser um abrigo provisório a estadia dura entre 15 e 30 dias e após esse período a vitima retorna para casa e continua recebendo apoio nos Centros de Referencia da mulher mais próximos de sua residência,  volta para o seu Estado ou Pais em que nasceu, nesse caso é acionado o consulado ou o serviço de apoio ao imigrante.  Depende muito do que a vitima carrega consigo em questão da violência sofrida, do risco e do que ela trás na sua fala. Uma mulher em situação de violência necessita muito mais que o apoio jurídico. O apoio psicológico é fundamental para que ela se liberte do ciclo. Pensando nisso a casa conta com uma equipe de assistentes sociais, psicólogas, orientadoras além de contar com a Guarda Municipal 24hs. Apesar de um equipamento como a Casa de acolhimento ser uma conquista para as cidadãs paulistanas uma única casa não atende a grande demanda, a procura é diária e as vagas estão sempre preenchidas. Uma mulher com sete filhos por exemplo já ocupa 8 vagas.  É imprescindível que mais equipamentos como esse sejam entregues para a cidade.

“A gente percebe que todas as mulheres que chegam à casa de passagem vivem uma violência que ultrapassa gerações. A mãe sofreu violência, a tia, a avó. Elas saíram de casa muito cedo porque sofreram violência do pai, do irmão, do padrasto, e agora elas se veem em um relacionamento abusivo. Como se não bastasse, muitas chegam lá adoentadas, tomando vários tipos de remédio, e a gente precisa levar ao Pronto Socorro e a partir daí vamos começar a articular quais os encaminhamentos naquele caso.”

A Faixa etária das mulheres que procuram a casa de passagem é de 20 a 50 anos em sua grande maioria, com uma base de 2 a 4 filhos. Durante a estadia além do tempo livre para estar com os filhos as orientadoras apostam em atividades que resgatam a autoestima, o respeito e amor próprio para fortalecimento das vitimas como palestras, rodas de conversa, artesanato e filmes sobre empoderamento feminino, resiliência e sororidade. Tudo com a finalidade de orienta-las sobre seus direitos e estreitar os laços entre as acolhidas.

 “O maior número é entre mulheres negras que chegam a casa com uma vulnerabilidade muito grande, você percebe que durante a vida toda dessas mulheres as instituições foram racistas e negligentes, preconceituosas e não tiveram um olhar humanizado pra essas mulheres.”

Claudia afirma ainda que uma das dificuldades que enfrenta na dia a dia como orientadora é manter um distanciamento como profissional em relação às vitimas. O fato de ser mulher, negra, mãe faz com que ela tenha um olhar de maior cuidado com as mulheres.  Qualquer mulher poderia estar naquela situação, além disso, existem funcionarias que trabalham com mulheres em situação de violência e sofrem agressão dentro das suas casas, mas conseguem se fortalecer ouvindo e participando das atividades e romper o ciclo da violência.

O espaço da casa de acolhimento Rosangela Rigo é administrado pela União Popular de Mulheres de Campo Limpo e é mais uma ferramenta para que as mulheres continuem lutando pelo seu direito a vida.

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