Babalorixá desmistifica ritos de passagem de ano ligados às religiões de matriz africana

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Crédito: Jotta Neto/Nappy

“O que a cabeça não quer nem o Orixá pode”, o Esè (poema da ifologia)  citado por Márcio de Jagun expressa bem o que o babalorixá de  Candomblé e professor de Yoruba na UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e na UFF (Universidade Federal Fluminense) acredita das previsões que são feitas nessa época do ano. O religioso explica que, para as religiões de matriz africana, a ação de consultar um oráculo para saber qual Orixá irá reger uma determinada comunidade no ano que está entrando acontece em momentos específicos, e sempre com o objetivo de fortalecer e ajudar aquela comunidade a passar por uma determinada questão.

“A consulta ao Oráculo não é para fazer uma adivinhação e sim para saber qual a recomendação para harmonizar aquela comunidade. Imagina descobrir qual a recomendação para um país como o Brasil?”, explica Márcio de Jagun, que reitera que cada tradição estabelece seu ritual de Passagem de ano:

“No Candomblé não existe um rito que seja horizontalizado sobre isso, quer dizer, que seja comum a todos os Terreiros”.

O acadêmico reitera que fazer esse tipo de previsão, como a cor do ano e outras superstições, por exemplo, é uma forma de estigmatizar as religiões de matriz africana.

“Esse tipo de postura reforça a imagem de que o Candomblé mercantiliza soluções e providências, reforçando a ideia de magia. E a religião não é isso”, enfatiza.

Esta explicação ajuda a entender quando Márcio de Jagun pontua que a tradição Yorubá preza muito pelo livre arbítrio, deixando claro que a responsabilidade pelo futuro está nas mãos e nas intenções do próprio
indivíduo.

“O fato de algumas pessoas quererem saber qual Orixá vai reger o ano e, assim, colocar sobre ele a responsabilidade do que pode acontecer de bom ou de ruim remete à crença judaico-cristã de um Deus que é responsável por todas as vidas e por todas as nossas escolhas. As religiões de matriz africana não se baseiam nessa mesma filosofia”,
elucida o babalorixá, que em um artigo publicado este ano explicou:

“Acredita-se que descendemos de nosso Òrìṣà, por isso o Candomblé é considerado uma Religião de culto ancestral. Temos que nossa cabeça e nosso destino são frutos do livre arbítrio e a regência do nosso Òrìṣà
resulta da ascendência de cada um”.

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