“As mídias sociais são usadas como ferramenta, gerando o adoecimento de pessoas pretas”, diz psicólogo.

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Segundo o Ministério da Saúde, o risco de suicídio entre jovens adolescentes negros homens, é 50% maior do que entre os jovens brancos, já com as mulheres, o risco é 20% maior entre jovens negras do que brancas, afirmando que jovens negros sofrem mais em decorrência da saúde mental do que jovens brancos.

Uma pesquisa feita por Robenilson Moura Barreto, Paulo Roberto Ceccarelli e Warlington Luz Lobo no artigo “O Negro e a Mídia: novas possibilidades de referências identificatórias nas redes sociais“, explica como as redes sociais reforçam estereótipos e ideias racistas de uma sociedade, trazendo a ideia de que ao mesmo tempo que as redes sociais são espaços emancipatórios, elas também enfatizam concepções preconceituosas, ou seja, as redes sociais podem intensificar os riscos de agravamento da saúde mental de pessoas pretas.

O Portal Notícia Preta entrevistou o psicólogo Gustavo Henrique dos Santos, e ele nos explicou o por quê isso acontece.  “Nós vivemos em uma sociedade em que tudo é branco, tudo é embranquecido, então pessoas brancas não reconhecem a própria raça, os bancos não são racializados, porque para eles é como se fosse o padrão a ser atingido, sendo assim, outras raças são quem acabam sendo questionadas o tempo inteiro. O processo de embranquecimento, ou seja, como o padrão a ser alcançado, ele acontece na sociedade como um todo, mas as mídias sociais elas são usadas como ferramenta, gerando adoecimento de pessoas pretas,  gerando o não reconhecimento de pessoas pretas, o apagamento da sua própria identidade e o adoecimento psíquico “, ressalta.

Psicólogo Gustavo Henrique dos Santos

O algoritmo racista e quem comanda:

Uma análise realizada por Tarcízio Silva, baseada no livro “Algorithms of Oppression: how search engines reinforces racism”  (Algoritmo da Opressão: Como mecanismos de busca reforçam o racismo) da pesquisadora Safiya U. Noble, apresenta como o algoritmo responde a uma pesquisa de imagem rápida feita pelo Google, como: “garota negra”, estando sempre relacionada a um estereótipo hipersexualizado. Além disso, acusou que profissionais brancos e não brancos responsáveis por administrar empresas como, Google, Facebook e Twitter, são formados por equipes desproporcionais, no que tange a questão racial. Pesquisa aponta que a Google possui 60% de profissionais brancos e 2% de profissionais negros. Na empresa Facebook, 55% dos profissionais são brancos enquanto apenas 2% são negros. No Twitter, 59% são brancos e os profissionais negros preenchem 2% do espaço. O psicólogo Gustavo, conta como ações como essas correspondem a um “ideal de ego”, e que este ideal é branco. “A gente vê que o projeto é de embranquecimento, a estrutura é de embranquecimento”, manifestou, parafraseando o professor Silvio de Almeida.

Segundo a análise de Tarcízio Silva, essas empresas se formarem por ocupações de cargo de maioria por pessoas brancas, resulta em uma faceta moderna de um projeto de dominação. “Existe um projeto de embranquecimento desde a colonização, e isso vem deturpando a saúde mental e física das pessoas pretas, porque o racismo causa um alto nível de estresse, de ansiedade e depressão. As doenças começam no campo da saúde mental e somatizam, passando para o corpo, nós vemos pessoas pretas adoecendo em virtude disso, dessa perda de identidade, que acaba causando essa ansiedade, esse pânico. Os padrões sociais só se intensificam nas mídias sociais, causando problemas de autoestima em homens e mulheres pretas, por conta de como é imposto socialmente., declara Gustavo.

adoecimento de pessoas pretas

Após a polêmica sobre o algoritmo do Twitter priorizar imagens de pessoas brancas, alguns usuários levantarem a hashtag, #algoritmoracista, a rede social recebeu denúncias, e em dezembro do ano passado o Twitter anunciou que desenvolveriam políticas que proibissem a ação destes algoritmos racistas.

Em outubro do ano passado, a Influencer e Youtuber Jacy, denunciou em seu perfi do Twitter, porém desta vez buscando entender como funciona o algoritmo do Instagram, anunciando em seu post que a Influencer e Youtuber Sá Ollebar havia testado o algoritmo do Instagram, postando durante uma semana fotos de mulheres brancas, como forma de manifesto, pois a rede social não estava entregando os conteúdos dela para seus seguidores. Após o teste, ela revelou em suas publicações que os números de engajamento do seu perfil aumentou em 6.000%. No tweet de Jacy, ela ainda enfatiza dizendo que o algoritmo não age sozinho e sim que existem pessoas por trás dele.

O psicólogo Gustavo Henrique explica o porquê isso acontece. “Isso acontece, porque o branco é o que aparece, e se o branco aparece como bonito, como a referência da sociedade, eu sigo, eu curto e eu comento, e o que vem do preto sempre é visto como feio, como algo a ser anulado, a cultura, a música, a religião…Então quando nós pretos expressamos a nossa cultura, isto ainda não é bem visto socialmente. O Instagram, traz isso à tona através das fotografias, que é difundido causando essas percepções, que são fantasiosas, tanto do homem quanto da mulher, que é: o que é esperado do homem preto? O que é esperado da mulher preta?”, provoca”.


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