A vitória das mulheres negras é uma resposta popular à uma sociedade cimentada no privilégio e no sexismo

Mais de 40 mil eleitores do Rio de Janeiro se viram representados pela então candidata, Mônica Francisco, e a escolheram para ocupar uma das 70 cadeiras da Assembleia Legislativa do Rio, a partir de janeiro de 2019. Em entrevista ao portal Notícia Preta, Mônica falou sobre os desafios que ela e as mulheres negras eleitas enfrentarão em uma Alerj onde o partido PSL, do futuro presidente Jair Bolsonaro, tem o maior número de membros.

A deputada também falou sobre o assassinato da vereadora, e amiga de luta, Marielle Franco e sobre a importância em ocupar espaços de poder.

 

Notícia Preta: Além do assassinato da vereadora Marielle Franco, quais foram suas outras motivações para entrar nesse cenário político tão excludente?

Mônica Francisco: Foi um conjunto de fatores. A execução de Marielle precipitou um processo que vinha sendo construído ao longo de 30 anos de trabalho, de militância, de presença nos movimentos sociais, da importância de estar nesse lugar de defesa dos Direitos Humanos, da democratização das mídias, além das outras militâncias. Minhas referências são as mulheres que estavam antes na luta, as que se colocaram nessa posição e a Marielle Franco.

NP: Você encontrará uma Alerj ainda dominada por homens brancos e com uma bancada bem representativa do PSL. Qual será pra você o maior desafio nessa Casa em 2019?

MF: Os desafios não serão novos. Eles serão os mesmos que nós mulheres negras enfrentamos diariamente: de um corpo que não é visto ocupando determinadas posições. O desafio é que estaremos em uma Casa parlamentar e que teremos que dialogar. Porém, encontramos um coletivo que demonstra uma certa resistência ao diálogo.

NP: Existe um contraponto na Alerj? Temos de um lado uma eleição representativa de mulheres negras e do outro a eleição de Rodrigo Amorim, do PSL, que rasgou a placa da vereadora Marielle Franco e, mesmo assim, foi o mais votado no Rio de Janeiro.

MF: A eleição desses dois grupos são respostas sociais que traduzem o que é a construção histórica da sociedade brasileira, cimentada no racismo, no privilégio, no sexismo e na presença dos homens brancos proprietários. Então, temos nas eleições uma reprodução da sociedade brasileira que não fez o ‘mea-culpa’ em relação a presença do escravismo no Brasil. São 130 anos de uma abolição inconclusa.  A chegada de mulheres negras eleitas nestes espaços é uma resposta social a execução da vereadora Marielle Franco, mas não só, pois, a própria chegada dela já foi uma resposta. Essa também é uma resposta social de um grupo que não se via representado. Por outro lado, a vitória destas outras pessoas significa que ainda temos um grupo social impregnando de preconceitos e de um senso comum, de uma sociedade fundamentada no racismo, no escravismo e na expropriação de direito deste outro grupo.

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