Literatura infantil é uma ferramenta no combate ao racismo

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Tudo que é diferente nos causa estranheza, ao menos em um primeiro momento. A partir do momento que nos dispomos a conhecer o outro, o “estranho” – de forma recíproca – o cenário pode ser mudado. Podemos sim nos familiarizar, conviver e respeitar o que, de certa forma, é tido como diferente.

Isso parece maravilhoso, como em uma história de “conto de fadas” com um belo final feliz, não é? Todavia, é lamentável que nem sempre isso ocorra. O Brasil é um país que ainda tem uma base racista extremamente consolidada. Muitas vezes o racismo se mostra de forma velada e, quando resolvemos debater isso, somos chamados de “vitimistas”, “mimizentos” entre muitos outros “apelidos carinhosos”.

E mais, enquanto jovens brancos fazem de tudo para se parecerem com “bandidos de quebrada” por acharem maneiro e descolado, jovens pretos lutam todos os dias contra o sistema para provarem que não são bandidos!

Quando penso nisso, me recordo do que Nelson Mandela (Long Walk to Freedom, 1995) dizia:

“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar”.

Mas vocês devem estar se perguntando agora o que Nelson Mandela tem a ver com a literatura, com racismo velado e com jovens brancos que querem pagar de “bandidos da quebrada”. Pois bem, é muito simples. 

A educação salva vidas! É ela quem vai ensinar os seus filhos, irmãos, primos, afilhados, sobrinhos… sobre as vivências de seus antepassados. De como viemos parar aqui. Mas principalmente, a educação abre caminho para a desconstrução de estereótipos e nada melhor para desconstruir preconceitos do que a própria literatura feita por pessoas que vivenciam o racismo todos os dias.

Esta pequena lista de escritores da literatura infantil (ou infanto-juvenil) serve como base para pesquisas futuras. Espero que gostem!

Lázaro Ramos:

Em seus livros, Lázaro busca captar o mundo e expressá-lo em versos, abordando temas que introduzem de forma muito sutil, a poesia política e social para que as crianças possam compreender. Dentre os livros do escritor e também ator estão: A Velha Sentada (2010); O Caderno de Rimas do João (2014); Sinto o Que Sinto – E A Incrível História de Asta e Jaser (2019) e Na Minha Pele (2017).

Em Sinto o Que Sinto – E A Incrível História de Asta e Jaser (2019), o livro traz reflexões de como lidar com os sentimentos, mostrando o quanto isso é difícil, tendo o intuito de ajudar as crianças a entender que é normal sentir raiva, alegria, orgulho, tudo ao mesmo tempo. Aprender a identificar e a nomear tais sentimentos é muito importante para o desenvolvimento emocional do ser humano. Além disso, a obra mostra a importância de se valorizar a nossa ancestralidade.

Eliza Lucinda

Poeta, jornalista, cantora e atriz brasileira. Enquanto escritora, ganhou o prêmio Altamente Recomendável (FNLIJ), em 2002 com o seu livro infanto-juvenil A menina transparente, da Coleção amigo oculto. Ao todo, a escritora possui mais de 17 publicações, entre elas: A Poesia do encontro – Elisa Lucinda e Rubem Alves (Ed. Papirus, 2008), Parem de falar mal da rotina (Ed. Leya – Lua de papel, 2010), A Dona da Festa (Grupo Editorial Record/Galerinha Record, 2011), Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada (Ed. Record, 2014) e Vozes Guardadas (Ed. Record, 2016).

Kiusam de Oliveira

É Professora na Universidade Federal no Espírito Santo, na disciplina de Educação das Relações Étnico-Raciais. Doutora em Educação e Mestre em Psicologia pela Universidade de São Paulo. Pedagoga habilitada em Orientação Educacional, Administração Escolar e Deficiência Intelectual. Escritora. Artista multimídia. Arte-educadora. Bailarina e coreógrafa. Contadora de histórias da mitologia afro-brasileira. Dentre os livros de Kiusam, estão: Omo-Oba: Histórias de Princesas, O Mar Que Banha a Ilha de Goré, Omo-Oba: Histórias de Príncipes e O Mundo no Black Power de Tayó – do qual, este último fora premiado pelo PROAC (Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo) – Cultura Negra/2012.

Em O Mundo no Black Power de Tayó (2013), Tayó é uma menina negra que tem orgulho do cabelo crespo com penteado black power, enfeitando-o das mais diversas formas. A autora apresenta uma personagem cheia de autoestima, capaz de enfrentar as agressões dos colegas de classe, que dizem que seu cabelo é ‘ruim’. Mas como pode ser ruim um cabelo ‘fofo, lindo e cheiroso’? ‘Vocês estão com dor de cotovelo porque não podem carregar o mundo nos cabelos’, responde a garota para os colegas. Com essa narrativa, a autora transforma o enorme cabelo crespo de Tayó numa metáfora para a riqueza cultural de um povo e para a riqueza da imaginação de uma menina sadia.

Madu Costa

De acordo com o LiteraAfro, Madu Costa busca incentivar não só a leitura em meio às crianças, mas também a produção de textos irrigados pela arte imaginativa. Tratando da afro-brasilidade de diversas formas em suas produções, a autora se dedica, também, a participar de projetos e eventos que buscam o reconhecimento e a expansão de tal campo artístico de nossa literatura. Dentre seus livros de literatura infanto-juvenil estão: A Caixa de surpresa (2009), Lápis de cor (2012), Zumbi dos Palmares em Cordel (2013) eEmbolando palavras (2014).

Encerro este texto deixando algumas outras sugestões de autores não só da literatura, como também das Ciências Humanas e Sociais: Kabengele Munanga, ChimamandaNgozie Adichie, Junião, Neusa Baptista Pinto, Edmilson de Almeida Pereira, Abdias Nascimento, entre outros.

Aproveito ainda para ressaltar que, abordar as questões raciais com as crianças se mostra de fundamental importância no combate ao racismo pois, auxilia no entendimento de que todos nós devemos ser respeitados e sermos protagonistas de nossa própria história.

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