“A democracia que exclui o povo negro não é uma democracia”, diz Angela Davis no Rio

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Angela Davis – Foto: Caio Oliveira

Nesta quarta-feira (23) centenas de pessoas se reuniram no centro do Rio para ver e ouvir a ativista e filósofa Angela Davis. A escritora participou da abertura do 12° Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul: Brasil, África e outras diásporas que ocorreu no Cine Odeon, no centro do Rio . Durante o evento, Angela também foi homenageada com a medalha Tiradentes, concedida pela  deputada estadual Renata Souza (Psol) e entregue pela parlamentar e por Luyara Franco, filha de Marielle Franco. 

Como o espaço só comporta 600 pessoas, um telão foi colocado do lado de fora para que o público pudesse acompanhar o evento da rua.

Angela Davis destacou em todo o momento a luta por justiça para a elucidação do caso Marielle Franco e se mostrou muito generosa com a família da vereadora assassinada. “Eu quero me juntar à família de Marielle para saber quem foi que mandou matar Marielle, mas mais importante do que isso: nós queremos que essas pessoas saibam que, se pensaram que se esse ato iria intimidar os que lutam contra o racismo, a homofobia, a luta contra a militarização da polícia, a luta dos sem-terra, eles tão absolutamente errados”, afirmou a ativista.

A filósofa destacou a importância do papel desempenhado pelas mulheres negras brasileiras nas religiões de matriz africana. Angela lembrou ainda de mulheres negras como Luiza Bairros que foi ministra-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Brasil; a escritora Carolina Maria de Jesus; a historiadora Beatriz Nascimento; a filósofa Lélia Gonzalez; a ativista Preta Ferreira e a escritora Conceição Evaristo que ajudaram a mudar a forma de pensar sobre o significado da luta pela democracia.

Durante sua palestra Davis afirmou que, para que de fato exista uma democracia justa e igualitária para todos, é preciso uma participação efetiva das mulheres negras na democracia. “A democracia que exclui o povo negro não é uma democracia. Uma democracia que exclui as mulheres negras não é uma democracia para todos. Se queremos compreender o segredo para que se possa estabelecer caminhos rumo à democracia, devemos nos voltar para os movimentos que são liderados por mulheres negras, devemos estar ao lado delas e apoiá-las. Ao fazer isso, você estará apoiando os movimentos de base que estão destinados a mudar o mundo”, afirma Davis.

A ativista também criticou, sem citar os nomes, os governos de Jair Bolsonaro (PSL) e Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, e os classificou como os “inomináveis” e líderes que não representam o futuro. 

“Nós não evocamos seu nome porque dar um nome confere reconhecimento e gera poder, mas eu sei que há aqueles e aquelas que se referem a ele como ‘o coiso’ e que as pessoas ao redor do mundo sabem o significado de ‘Ele não’. (…) Lula pode estar preso, mas ele não desistiu. Lula livre”, disse Davis.

“Esse contexto atual não é o contexto em que devemos nos render a desesperança. Os dois líderes, os inomináveis, não são aqueles que representam o futuro. Nós somos aqueles que iremos trilhar caminhos em direção a democracia que está por vir”, disse a filósofa.

Medalha Tiradentes

Deputada Renata Souza, Angela Davis e Luyara Franco Foto: Caio Oliveira

Um desejo antigo da vereadora Marielle Franco foi realizado nesta quarta-feira (23): homenagear a ativista e filósofa Angela Davis. 

“Estar aqui hoje é honrar a nossa luta ancestral. Homenageamos Angela Davis em nome de todas essas mulheres que querem criar seus filhos e uma sociedade mais justa. Homenagear Angela Davis com a maior comenda da Alerj é aquilombar toda uma lógica perversa, mas entendendo que aquele lugar é também de nossa responsabilidade e, portanto, transformar a sociedade com o pé no chão na favela e na periferia, na construção coletiva de mulheres e homens, negros e negras, população LGBT é fundamental”, declarou emocionada a deputada Renata Souza.

Muito emocionada Luyara Franco, filha de Marielle,  falou sobre os ensinamentos de sua mãe e recitou um poema escrito por seu avô, Antonio Francisco: “Minha mãe dizia que ‘eu sou porque nós somos’. Eu costumo dizer que somos resistência porque ela foi luta. Que a gente se junte para vencer a barbárie”.

Confira a galeria de imagens do fotógrafo Caio Oliveira

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