A caravana não para quando a branquitude late

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Por: Jorge Santana – historiador, pesquisador, documentarista e doutorando em Ciências Sociais

Em 2010, um jornalista e ativista de extrema-direita propôs uma alteração da Lei Áurea ( lei que libertou os escravizados). Para surpresa o cidadão de bem reivindicava uma indenização para os ex-proprietários de escravizados. Segundo o mesmo os escravistas foram “economicamente afetados” pela abolição. A  proposta não assuta quem vive o racismo cotidiano no Brasil, o que surpreende é o argumento da proposta.

Os gregos defendiam que a história é cíclica, uma teoria o qual foi derrubada pelos historiadores modernos. Contudo, alguns fatos históricos nos levam a acreditar se a história realmente não é cíclica. A mais nova ação que nos leva a fazer essa pergunta foi a ação do defensor público da união (DPU) contra a loja Magazine Luiza .

No mês  passado a rede de varejo lançou um programa de seleção de trainees apenas para candidatos negros e negras. Segundo a empresa a seleção tinha com objetivo corrigir uma distorção fruto do racismo e da desigualdade social, econômica e racial. Na Magazine Luzia os negros ocupam 16% dos cargos de comando e  são 50% nos cargos na base da companhia. Ou seja, a seleção é  uma política afirmativa.

Eis que a política afirmativa gerou revolta na branquitude. O defensor Jovino Bento, de tez alva, franja recortada e nariz afilado impetrou ação civil pública pedindo  que justiça condene a rede varejista  a pagar R$ 10 milhões. A argumentação do nobre defensor é que o programa de praticar discriminação. Como também de “racismo reverso”, porém ele não ousou explicar o “conceito”. O servidor que alega uma inconstitucionalidade da ação, mas esquece de que o próprio Estado brasileiro pratica ações afirmativas desde a década 1990.

A história não é cíclica, essa branquitude revoltada com os avanços da reparação histórica da escravidão está aí. De tempos em tempos surgem alguns destemidos a falarem o que pensam em espaço público. A Lei Áurea não será alterada para indenizar os antigos donos de escravizados e programa de política afirmativa da Magazine Luiza seguirá em frente . A caravana não para quando a branquitude late (ulf ulf).

Por: Jorge Santana – historiador, pesquisador, documentarista e doutorando em Ciências Sociais

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