90% dos mortos pela polícia no Rio de Janeiro são negros, revela pesquisa

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Mesmo sendo 57,1% da população no Estado, as pessoas negras somam 90% das vítimas letais das polícias na capital Fluminense. É o que mostra o levantamento realizado pela Rede de Observatórios de Segurança, publicado nesta terça-feira (14). Somente no ano de 2021, foram 415 assassinatos na cidade do Rio de Janeiro.

Policiais com arma em punho na entrada do complexo do Salgueiro – Foto: Poder 360

O levantamento mostrou também que, no Estado em geral, essa média cai, mas em um patamar insignificante. Dos 1.245 óbitos no Estado, 86% das vítimas eram negras. “Esses números do RJ se explicam muito por conta do comportamento da polícia. A gente tem um cenário que não tem paralelo com nenhum outro estado do país. A polícia do Rio mata muito”, comentou Pablo Nunes, coordenador de pesquisa da Rede de Observatórios da Segurança, em entrevista ao G1.

Baseado na Lei de Acesso à Informação, a pesquisa nomeada de “Pele alvo: a cor da violência policial” mostra o racismo declarado que permeia as polícias no Rio de Janeiro e na maior parte do País. “Esse racismo se pratica com a anuência de autoridades e a naturalização de boa parte da sociedade”, afirma Pablo.

O pesquisador ressalta também que a política de Estado, baseada na necropolítica, gera chacinas as cometidas no Jacarezinho e no complexo do Salgueiro. “Fora as chacinas, também temos os expedientes das troias, que estão sendo alvo de discussões e projetos de lei na Alerj para proibição dos mesmos. A Kathlen (jovem grávida morta no Lins durante operação policial) e tantas outras foram vítimas dessas operações”, relembra.

Ao todo, a Rede de Observatórios avaliou sete Estados: Bahia, Ceará, Piauí, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Maranhão. Em todos eles, segundo o levantamento, os negros são as maiores vítimas das polícias. “Em todos os estados analisados, eles (negros) estão mais representados entre o total de pessoas mortas do que na população geral. Isso evidencia uma estrutura brasileira de reprodução do racismo e de certa aceitação dessas mortes por meio da sociedade”, conclui.

Minas Gerais não produz dados

No final do mês de setembro deste ano, a Agência Minas, site de notícias do Governo de Minas Gerais, divulgou uma notícia intitulada Dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública colocam Minas como o estado mais seguro do país. 

No levantamento, realizado pelo Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp), do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), foram apurados dados sobre a ação dos agentes de segurança pública nos 27 entes federados e o estado lidera, com os menores índices de criminalidade, segundo o levantamento.

No início de outubro deste ano, o presidente da Cufa BH foi vítima de violência policial no Alto Vera Cruz, zona Leste da Capital Mineira – Foto: Rede Globo

Porém, a Sejusp disponibiliza alguns dados em detrimento de outros, conforme relata Rafael Rocha, pesquisador do Instituto Sou da Paz e do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da UFMG. Segundo ele, a posição da Sejusp em relação à disponibilização dos dados é dúbia. “Por um lado, alguns dados de crimes violentos, como estupros, roubos e homicídios, são disponibilizados mensalmente no site da secretaria. Por outro, qualquer outro dado além destes disponibilizados no site da Sejusp são de difícil acesso. Entre eles se encontram, principalmente, os dados sobre a letalidade e a vitimização policial, assim como o perfil racial das vítimas de crimes, sobretudo dos homicídios, essenciais para que possamos analisar a dinâmica destes assassinatos”, afirma.  

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