74% das meninas mães são negras, aponta levantamento

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A pesquisa “Por Ser Menina no Brasil”, realizada pela Plan International Brasil, em parceria com a consultoria Tewá 225 e publicada nesta sexta-feira (21), revela que 74,1% das meninas mães no Brasil são negras. 37% deste total está entre 16 e 17 anos. Entre as meninas entre 14 e 15 anos, a taxa cai para 14,8%. 

74,1% das meninas mães são negras – Foto: Reprodução

O levantamento revela ainda que as meninas mães brancas correspondem a 21% e as indígenas 3,7%. Na divisão por estados, o Amazonas é o local com maior percentual de meninas mães, com 8,1%, seguido por Maranhão (5%) e Goiás (2,9%). “Correlacionando as idades e raça das meninas constatamos que as meninas negras são as mães na faixa etária mais jovem, o que pode representar um maior grau de vulnerabilidade social”, afirma o relatório. 

Para a presidente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES), Rozana Barroso, a gravidez na adolescência é uma realidade que não vem dos últimos anos, mas que perdura na sociedade há muito tempo e impacta diretamente a vida das meninas. “Falo com propriedade. Sou filha de uma mulher que ainda é estudante da Educação de Jovens e Adultos e teve que parar de estudar por conta de uma gravidez aos 15 anos. Essa é uma realidade de muito tempo no nosso país, principalmente para as meninas negras, como minha mãe, e hoje empregada doméstica”, afirma. 

Rozana ressalta ainda que a educação sexual das crianças e adolescentes é de extrema necessidade para que casos como esses sejam minimizados. “Nesse momento tem se agravado mais e é por isso que a educação sexual, incentivo ao acesso à educação, uma escola de qualidade são importantes para que essa menina possa receber instruções. E caso ocorra a gravidez, que a gente possa conseguir ampará-la na educação. Que a ela não seja negado mais o acesso à escola”, enfatiza. 

“É muito importante que possamos colocar a educação sexual no centro do debate. Algumas pessoas criminalizam a educação sexual, não tem informação e reproduzem a ideia de que educação sexual é ensinar o jovem a fazer sexo. Pelo contrário, é para prevenir, fazer com que essas meninas conheçam seus corpos e saibam se cuidar”, conclui. 

Trabalho

Outro dado abordado na pesquisa é a ocupação e remuneração das adolescentes. Segundo o estudo, 18,6% das meninas entre 14 e 19 anos estão trabalhando. Deste universo, 37,4% são meninas negras, enquanto 20,3% das trabalhadoras são amarelas e 20% são brancas, o que revela uma necessidade dessas meninas começarem a trabalhar mais cedo.

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A gravidez na adolescência causa evasão escolar – Foto: Reprodução

O levantamento também revelou que 29,1% das meninas trabalham por conta própria (bicos, aplicativos e trabalhos informais), 26,6% sem carteira assinada e 24,9% com carteira assinada, sob regime CLT. “Neste sentido, é possível afirmar que a maior parte das meninas estão inseridas em um cenário de instabilidades e informalidades do trabalho remunerado”, diz o relatório

Em relação à segurança, 56,9% das meninas entrevistadas revelaram que sentem medo de andar na rua. “Isso revela um ambiente externo extremamente agressivo para sua descoberta do mundo, para que as meninas vivam experiências de interação com o espaço público, com o esporte coletivo, com a liberdade para brincar. Espaços que deveriam promover a cooperação são carregados de desigualdades estruturais que expõem as meninas ao risco de serem acometidas por violações de direitos, assédios e violências”, ressalta o documento. 

A pesquisa, de cunho quantitativo e qualitativo, abrangeu 5 estados, 21 cidades e uma amostra de 1771 meninas respondentes, entre 6 e 14 anos. “Os dados levantados neste estudo evidenciaram o enorme desconhecimento por parte das entrevistadas sobre 8 instrumentos de proteção e direitos das crianças e mulheres, a falta de repertório simbólico do que é ser menina, e outras dificuldades enfrentadas por elas no cotidiano, como seus papéis de gênero definidos”, finaliza. 

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